Oscar 2013: três filmes que me ensinaram pra cacete

Oi.

Isso não é uma crítica de cinema. Primeiro porque eu acho isso tudo uma besteira sem fim. Segundo porque eu não sei nada de cinema, a não ser pelo fato de saber que eu gosto muito, muito mesmo de cinema.

Por mais que eu queira ficar aqui criticando os críticos de cinema, prefiro falar sobre o que este texto realmente irá tratar. Quero falar de três filmes que estão concorrendo ao ídolo de basquete de Melhor Filme e falar sobre o quanto esses filmes mexeram comigo e o que eles podem ensinar não só para mim, mas também para você.

Lincoln

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Vou começar logo com o melhor filme e o que mais mexeu comigo.

O filme Lincoln mostra um curto espaço de tempo da guerra civil americana, momento em que o presidente Abraham Lincoln tentava a todo custo abolir a escravidão nos Estados Unidos. Para um apreciador como eu, este filme é uma obra prima pela enormidade que foram as atuações de Daniel Day Lewis – que desde o dia que vi Lincoln é o maior ator do mundo pra mim – e da inacreditável Sally Field. Deviam criar um Oscar de "Melhor Cena/Diálogo do Universo" e dar ele para os dois.

Me dá vontade de chorar só de falar dessa cena. E olha que eu nem falei de Os Miseráveis ainda.

Não sei se foi pelas atuações, não só dos dois – que fique claro, ou pela trilha sonora do mítico John Willians ou pelo coração gigantesco que o Spielberg, em seus dias bons, coloca em seus filmes. Mas essa obra me destruiu. Me sentou na cadeira do cinema e foi arrancando a minha soberba e a minha arrogância ao pensar que eu, por um momento, soube o que significou a escravidão e o que é o preconceito contra uma minoria. Assim como John Snow, eu não sei nada.

Lincoln está na história como o maior presidente americano, talvez o maior chefe de estado de todos os tempos. Se ele realmente era daquele jeito retratado no filme, eu só posso endossar o coro. O homem não aceitava o fato de uma nação como a americana ter escravos e não acreditava em progresso sem que isso acabasse.

Acho que o que mais me fez chorar, o que mais me fez sentir vergonha das atrocidades que meus antepassados cometeram (coloco aqui também o nosso país), foi o personagem do Tommy Lee Jones e a turma dos abolicionistas, que assim como eu hoje, não conseguiam se conter frente ao absurdo que é achar que a cor da pele faz um ou outro melhor ou pior.

Por mais que eu achasse que sabia o que acontecera, que conhecia aquela realidade, Lincoln me mostrou que tudo fora muito pior e, que hoje, continua sendo muito ruim para qualquer minoria. O que as pessoas discutem hoje sobre homossexuais, era o mesmo absurdo que discutiam sobre negros naquela época. Não faz sentido algum uma pessoa não ter os mesmos direitos que outra por que a pele tem tal cor, ou por que ama outra pessoa do mesmo sexo.

É um absurdo.

Tenho certeza que, da mesma forma que eu olho para trás e vejo o que fizemos e fico horrorizado, nossos filhos olharão para trás e nos perguntarão com total incredulidade

Mas como assim batiam em homossexuais? E por que eles não tinham os mesmos direitos que todo mundo? Como assim? Vocês eram estúpidos ou o quê?”

Somos estúpidos e o quê.

 O lado bom da vida

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Já dizia o Coringa:

“Todos nós somos loucos, você só precisa de um dia ruim para provar isso.”

O personagem de Bradley Cooper nesse filme sentiu isso na pele. O lado bom da vida me deu uma sensação tão forte de realidade que eu jurei que era documentário. Pode acontecer com qualquer um.

Você é casado, feliz, leva uma vida sem muito luxo, mas tem tudo que quer, um trabalho legal, casa bacana. Aí, um dia, você encontra sua mulher no banheiro transando com o seu colega de trabalho pelo menos 25 anos mais velho.

A chance de você pirar é proporcional ao medo que você tem de perder tudo aquilo que construiu.

Assim como o Coringa pirou quando sua mulher – grávida –, morreu em um incêndio. No caso do filme, Pat (Bradley Cooper), ao pegar a mulher o traindo, espancou e quase matou o amante. A história começa quando a mãe de Pat vai até a instituição mental para buscá-lo. Após ficar lá quase um ano, ele sente que está bem e que já superou tudo, não vendo a hora de resolver as coisas com sua esposa e retomar a vida que tinha antes.

Não esperava grande coisa desse filme e fui surpreendido.

Atuações incríveis – menção à cena em que o De Niro (que faz o pai do Pat) vai até ele dizer o quanto sentia por não ter convivido tanto com o filho e que, a partir de agora, queria passar todo o tempo que pudesse com ele. Olha... vou te falar, o De Niro chorando numa tela de cinema falando essas coisas, é impossível não se arrepiar e não entrar dentro do filme. Se é que você me entende.

O lado bom... reforça um grande ensinamento que tive ao ver Toy Story 3.  São três palavrinhas que podem fazer uma diferença gigantesca na sua vida:

let it go

Às vezes ficamos tão obstinados e obcecados com alguma coisa ou alguma pessoa que não vemos o mal que fazemos a nós mesmos e àqueles que nos amam. Talvez essa é a hora de você parar um pouco e analisar mais friamente as coisas. Seu relacionamento, sua vida profissional, sua família.

Toy Story me ensinou que as coisas mudam e que esse é o curso natural das coisas. O lado bom da vida me ensinou que aquela bobeira de que temos que conseguir o que “queremos” a qualquer custo ou que devemos morrer tentando deve ser ignorada e que devemos prestar um pouco mais de atenção no que está a nossa volta e nas consequências das coisas que fazemos.

Os Miseráveis

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Minha namorada insistiu durante o carnaval inteiro e eu, relutante, fui com ela assistir a um musical. Já estava me preparando para a chatice e para ouvir a Anne Hathaway cantando  "I dreamed a dream" e depois dormir.

Como eu estava errado.

Resumindo, pra você que não viu (ou não pretende ver) o filme é sobre o Wolverine, digo, sobre um cara chamado Jean Valjean, conhecido como "Jã Vau Jã". Se tem alguém que sofreu por aí foi ele, que ficou preso 19 anos por roubar um pão para o filho pequeno de sua irmã moribunda. Dezenove anos. Naquela época (Revolução Francesa), um cara como ele era marcado para a vida toda. Jã Vau Jã foi declarado um homem extremamente perigoso, por Maximus, digo Javert, policial e vilão da história.

Foi no início do filme, percebendo a diferença absurda que é ver um musical gravado ‘ao vivo’ (os atores estavam cantando de verdade no momento das gravações, e não fazendo lipsync - sincronização com os lábios -  da gravação de estúdio, como é mais comum), e como isso influencia nas atuações e nas emoções eu comecei de cara a gostar do filme.

Acontece tanta coisa, mas tanta coisa que eu me recusei a acreditar que aquelas 14 horas que eu passei dentro do cinema foram só duas horas e meia. Chorei tanto quanto minha namorada que, pela primeira vez, me acompanhou nas lágrimas.

Sim, sou eu o chorão.

Eu terei um problema sério para ver qualquer filme com Anne Hathaway, porque é só ver o rosto dela para começar a chorar.

Obs: peço encarecidamente ao meu editor para não colocar uma foto dela.

Apesar de todo o choro, eu poucas vezes saí tão feliz de uma sala de cinema. Ver uma história de um homem que só conheceu o ódio e que, com o amor, ele conseguir perdoar a si mesmo e a todos que fizeram mal a ele, é muito bom cara. Atuações e músicas impressionantes, sabe quando você sente um filme na pele? Então, foi o que aconteceu comigo ao ver Os Miseráveis.

O que ele me ensinou foi simples e meio óbvio, mas que a gente nunca pode esquecer: cultive sentimentos bons. Por pior que seja o alvo do seu ódio, raiva ou coisa do tipo, vale muito mais a pena você se concentrar nas pessoas que você ama. Além disso, aprenda a se aceitar e a se perdoar antes de querer isso das outras pessoas.

***

Espero de verdade que eu tenha convencido você a ir para o cinema ver esses três filmes. Vale cada centavo, e cada segundo. Você vai sair de alma lavada e com forças renovadas.

Pode não ter nada a ver com esses filmes, mas eu estou valorizando um pouco mais as coisas mais importantes para mim. Parei de fumar, estou fazendo exercícios regularmente e estou me esforçando em todas as minhas ações ser um cara legal, não porque eu quero ser uma pessoa bacana, mas porque faz bem mesmo.

Experimente.

Obs: cerimônia do Oscar acontece nesse domingo, dia 25 de fevereiro. Os três filmes citados no artigo concorrem na categoria de melhor filme.


publicado em 22 de Fevereiro de 2013, 11:29
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Pedro Turambar

Pedro tinha 25 anos e já foi publicitário. Ganha a vida fazendo layouts, sonha em poder continuar escrevendo e, quem sabe, ganhar algum dinheiro com isso. Fundou o blog O Crepúsculo e tem que aguentar as piadinhas até hoje. No Twitter, atende por @pedroturambar.


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