Os reencontros de amor e fúria | Do Amor #6

Amores esquecidos e reencontrados precisam ser, antes, desativados feito bomba de atentado

Já estavam se falando há três dias. Uma delícia. Se reencontraram pela Internet em uma das noites de insônia que ele estava tendo há semanas. Ele fuçava o celular, já deitado, e deu de cara com alguma atualização de foto no perfil dela. Linda, sorriso vermelho de batom, boca grande, olhinhos espertos em alguma festa de taça na mão, vestido decotado.

Havia muitos meses que não se falavam, talvez anos. Um namoro intenso, mas quebrado por brigas, um período bem conturbado na vida dos dois. Se separaram, brigaram mais um ano inteiro e decidiram não manter mais contatos. A rede social voltou a uni-los, agora como amigos, mas sem se falarem. Apareciam pouco um no cotidiano do outro, até que ele ficou curioso. "Como será que ela está?", pensou.

Abriu a caixa de mensagens e mandou um oi.

Ela estava muito bem, estudando bastante na pós-graduação, escrevia um artigo naquele momento. Tiraram o atraso em um papo que foi até o amanhecer, passaram o dia seguinte mandando mensagens um para o outro enquanto zumbizavam, ele no trabalho, ela na faculdade. Marcaram de tomar um café, empolgados. Não haveria de ter nada para acontecer de errado, dois adultos responsáveis e animados, interessados em saber da vida de quem, antes, nutriram tantas sentimentalidades.

Trocaram um abraço autêntico, honesto. Ele pediu um expresso e perguntou se ela ainda gostava do capuccino duplo, se ainda gostava de apertar a xícara com as duas mãos para esquentá-las. Percebeu os ombros dela relaxando, sorriu enquanto se amolecia mais na cadeira e assentiu positivamente. Ele fez os pedidos, botou os dois cotovelos na mesinha, mãos segurando o queixo. Passaram horas botando os assuntos em dia, falavam dos filmes que haviam assistido nos últimos tempos, riam juntos concordando que era bonitinha a letra do disco novo do Galego, em que ele dizia "ai que bom ter você por perto" e "ser seu Tom, você minha Luiza".

Leves. Ela arrumava os cabelos, longos e negros, ele olhava pro teto. Tinham uma intimidade guardada e que ainda se podiam usar, sabiam que uma relação nunca acaba, que estava tudo ali para ser utilizado. Estavam gostando. Riram bastante, trocaram dedos na mesa por entre as xícaras, se olharam, suspiraram. E então ele perguntou:

— Aiai... por que será que a gente não deu certo, né?

— Porque você era controlador demais.

— ...

— Que foi?

— Nada... hehe... é que você respondeu tão rápido.

Ela sorriu.

— Mas você era mesmo! Não lembra? Era difícil não se sentir sufocada com você me questionando o tempo todo.

— Difícil era não sufocar no tsunami bipolar que você era.

— Ai, lá vem.

— Lá vem o quê? Lembra daquele dia da festa no Paulinho? Você acha que era pra ter me tratado daquele jeito aquele dia?

— Se eu cheguei atrasada era porque eu tinha um motivo.

— Tudo era sempre por um motivo.

— Você brochava!

O estabelecimento se enfiou em um silêncio sepulcral.

— Vaca.

— Ah, vai pro inferno.

 

Ela saiu sem pagar a conta e ele foi pra casa. Dormiu três dias seguidos.

O amor é combustível pra ódio, é explosivo e tem o detonador bem sensível. 

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publicado em 01 de Maio de 2015, 00:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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