Os estádios estão virando bunkers?

Se você é um apaixonado por futebol, certamente concorda comigo que um dos melhores lugares do mundo para se estar é a arquibancada. É lá que se brinda a camiseta. É lá que somos torcedores. Se bem que ultimamente muitos preferem celebrar sua paixão boleira por meio do controle remoto ou do video-game...

Nem mil palavras, nem mil imagens traduzem a sensação de estar aí no meio.

Frequentar estádio é cultura. Uma cultura que vem sendo corrompida pela violência das torcidas organizadas e pela hiperexploração comercial do mundo da bola. No entanto, em certa medida, a segunda está ligada a primeira. Infelizmente.

Se observarmos bem, os estádios estão se tornando grandes empreendimentos comerciais que visam selecionar o público por sua capacidade de consumo. Os ingressos estão cada vez mais caros, se tornando inacessíveis para as camadas populares. Aliás, o próprio conceito de "populares" nos estádios está esgotado.

Essa é uma das denúncias e pontos da missão da recém criada Associação Nacional dos Torcedores, iniciativa encabeçada por Marcos Alvito e Christopher Gaffney, com o objetivo organizar e amparar aquele que sustenta toda essa roda de negócios que move o futebol moderno: o torcedor.

Link YouTube | Sabia que o Maracanã vai perder capacidade de público e extensão de gramado?

Nessa linha de ação da ANT,  pode-se dizer que o que ocorre com os estádios  é o mesmo movimento que se observa nos condomínios residenciais. À frente da violência das torcidas organizadas, os dirigentes do esporte vem transformando os estádios em verdadeiros bunkers privativos, assim como as incorporadoras imobiliárias vem transformando os condomínios em burgos fortificados.

Infelizmente, preferimos escapar da violência nos enclausurando, mesmo que o problema das torcidas organizadas esteja muito longe dos gramados. Hoje em dia, o torcedor se organiza em busca de uma identidade que não encontra nas esferas sociais. Por não desfrutar de cidadania plena,  preferimos ser palmeirenses, corinthianos ou flamenguistas antes de sermos amplamente brasileiros.

A bunkerização do futebol é muito mais uma consequência do que uma causa em si mesma. Anos de degradação e exploração torpe do esporte, além de minar a cultura  folclórica do futebol, transformaram as partidas em sínteses das tensões sociais e políticas do país.

Do lado de dentro, o cartola gordo e negocial. Do lado de fora, aquele que o sustenta.


publicado em 14 de Dezembro de 2010, 15:00
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Flaco Marques

Rapaz do interior de SP que vive suas desventuras na cidade grande. Poliglota valente, busca equilibrar o jeito cosmopolita de ser com a simplicidade caipira de viver.


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