Os 5 distúrbios psiquiátricos mais bizarros já observados pela medicina

A medicina é talvez a ciência que mais avança. No século 19 desconhecia-se o valor da assepsia, os cirurgiões operavam de mãos descobertas, sobre a mesa ainda suja do sangue do paciente anterior, vestindo a mesma sobrecasaca empoeirada que usaram a caminho do trabalho. O pobre doutor Ignaz Semmelweis, já não bastasse sua cabeça peculiar, foi tachado pelos colegas de homo-asséptico por ousar sugerir que as mãos devessem ser lavadas antes de realizar um parto.

Embora Antonie van Leeuwenhoek já tivesse observado bactérias ao microscópio no século XVII, foi Pasteur que, dois séculos depois, as associou à transmissão de doenças. Foi só em 1928 que a penicilina foi descoberta e trouxe alívio a milhares de pacientes.

Hoje, poucas décadas depois, vemos transplantes de órgãos, conhecemos nosso genoma, a cura para doenças que varreram cidades e possibilitamos a realização de um procedimento cirúrgico a quilômetros de distância do paciente.

Mas o cérebro ainda é um mistério... A psiquiatria moderna, que há pouco mais de 30 anos ainda tratava esquizofrenia com lobotomia, mal começou a conhecer o interior dessa Caixa de Pandora.

E como toda máquina com muitas engrenagens, o cérebro às vezes falha. Conheça 5 dos distúrbios psiquiátricos mais bizarros já observados pela medicina.

Desordem dos Franceses Saltitantes do Maine

lenhadores
"Ei, parem tudo e replantem essas árvores!"

O Dr. George Miller Beard era um homem deveras notável. Fazia troça do sobrenome mais formidável de Yale ao cultivar jocosamente um par de suíças (onde está a barba do Dr. Barba?). Era neurologista, serviu durante a Guerra Civil Americana e entrou para a história das ofensas mais miríficas ao cunhar o termo neurastenia.

Enquanto não estava ocupado sendo formidável, Dr. Beard se embrenhava no mato a fim de se dedicar a um estudo muito importante para a medicina e a humanidade: o comportamento de lenhadores franco-canadenses da região do lago Moosehead no Maine.

Beard observou que muitos dos lenhadores da região reagiam exageradamente a estímulos e obedeciam, sem hesitar, a comandos dados em voz firme e forte.

Enquanto uma pessoa normal reage a um susto com um pulo e, talvez com, um grito, um portador da desordem descrita por Beard chacoalha os membros gritando em desespero, rodando sobre si mesmo e possivelmente convulsionando.

Os pacientes também demonstraram extrema suscetibilidade a ordens firmes e repentinas. Se surpreendido com uma ordem de “Soque sua mãe na vagina!”, o paciente obedecerá imediatamente mesmo que ciente da atrocidade do ato de golpear a genitália materna.

Ainda não há consenso se o mal é de origem psicológica ou neurológica, mas alguns estudos sugerem que a hiperreflexia (reações exageradas) é causada por defeito na captação de glicina, aminoácido, entre outras coisas, responsável por moderar a reação aos estímulos recebidos pelo sistema nervoso central.

Uma maneira caseira de experimentar os mesmos efeitos (provavelmente acompanhados dos efeitos de morte) é tomando estricnina.

Piblokto

eskimo_mulher
Esquimó anciã começando a ficar alegre...

Esquimós não são conhecidos por serem exemplos de equilíbrio mental. Além de fornecer a esposa para aquecer a cama de amigos, habitar geladeiras e trocar muco como sinal de afeição, os esquimós tem um distúrbio só pra eles: o piblokto.

Durante o inverno alguns esquimós entram em um frenesi furioso incontrolável, gritando, agredindo amiguinhos aleatoriamente, repetindo palavras ad nauseam (ecolalia), comendo fezes e correndo nus – mais ou menos o que você faz quando bebe tequila.

As origens desse distúrbio adorável ainda são matéria de especulações, mas a teoria mais aceita é que ele seja causado pelo excesso de vitamina A na dieta dos esquimós.

As mulheres são as mais afetadas (o que já era de se esperar dada a sua natural predisposição ao chilique), porém encontram-se manifestações também em homens, crianças e cachorros.

Síndrome de Cotard

eletrochoque
"Você acha que está morta? Então vem cá que vou te mostrar uma coisa..."

A Síndrome de Cotard ou Ilusão Niilista consiste na crença da perda ou ausência de órgãos, membros, sangue, alma e até da própria vida.

Foi descrita pela primeira vez em 1880 pelo neurologista francês Jules Cotard, que ao prostrar-se à cabeceira da filha – na brilhante tentativa de curar sua difteria – acabou morrendo. Cotard relatou o caso de uma paciente que negava a existência de Deus e do Diabo (em minha avaliação, um último resquício de sanidade), de algumas partes do seu corpo e da necessidade de se alimentar. A paciente também acreditava estar morta.

O distúrbio parece estar associada à Síndrome de Capgras, em que a pessoa acredita que uma pessoa próxima tenha sido substituída por um impostor. Acredita-se ser causado por uma interrupção na conexão entre as áreas do cérebro que reconhecem rostos e as áreas responsáveis por associar sentimentos a eles.

As ilusões podem ser extremamente detalhadas como o caso de um paciente que, após sofrer um acidente, passou a acreditar que estava morto. Quando teve alta e foi levado pela mãe para a África do Sul concluiu ter chegado ao inferno (o que seria ainda mais compreensível se o destino final fosse Brasília) e que estava sendo guiado pelo espírito da mãe que, na verdade, dormia.

Em alguns casos a ilusão de estar morto é tão forte que o paciente chega a sentir o cheiro da própria carne em putrefação.

O uso de antidepressivos mostrou pouca eficácia no tratamento. Em testes, o uso de eletrochoque se demonstrou mais eficiente.

Síndrome de Retração Genital

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Os implacáveis bruxos encolhedores de pênis do Congo

Conhecida também como Síndrome de Koro (“cabeça de tartaruga” em malaio), a Síndrome de Retração Genital é a sensação e medo descontrolados de ter os órgãos genitais encolhidos ou até mesmo removidos.

A síndrome freqüentemente é associada à histeria em massa afetando grandes parcelas da população geralmente em países africanos ou asiáticos.

Em uma recente crise de Pânico do Pênis (é assim que são chamados os surtos da síndrome) no Congo grande parcela da população entrou em desespero temendo de ser atacada por bruxos com o suposto poder de encolher o pênis da vítima com o toque. O pânico foi tão generalizado que a polícia chegou a prender suspeitos. Em um evento parecido em Gana, 7 ladrões de pênis foram mortos pela multidão revoltada de micropênises.*

A síndrome é associada a fatores culturais, muito embora seja difícil compreender que africanos tenham algum motivo para temer que seus pênises tenham encolhido.

*Observação do autor: o plural de pênis foi propositalmente grafado como "pênises" pelo simples fato de soar formidável.

Síndrome de Paris

Afetando quase sempre japoneses, a Síndrome de Paris consiste em um colapso nervoso de turistas ao visitarem a capital francesa.

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Você vê monstros, espiões ou gnomos malignos nessa rua de Paris?

O choque cultural entre a milenar e conservadora cultura nipônica e a mentalidade cosmopolita do parisiense causa nos pacientes uma ansiedade incontrolável que os quebra mentalmente. Identificada pelo psiquiatra japonês Hiroaki Ota, a síndrome pode levar os pacientes a alucinar e sofrer de paranóia extrema.

Há relatos de uma turista que foi repatriada após reclamar junto à embaixada japonesa que seu quarto de hotel estava sendo grampeado e que havia um plano para matá-la. São também conhecidos os casos do homem que acreditava ser o Rei Luís XIV e da mulher que afirmava estar sendo atacada com raios de micro-ondas.

Os surtos são tão graves que a embaixada do Japão na França oferece uma linha de ajuda 24 horas.

Embora alguns pacientes demonstrem melhoras com o uso de antidepressivos e análise, a maioria só tem uma cura: deixar Paris e nunca mais voltar.


publicado em 18 de Agosto de 2009, 10:25
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Sicko

Sicko é médico, especializado em psiquiatria forense e reúne todos seus pacientes no www.lolhehehe.com.


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