Obrigada, moça: pare de amaldiçoar a Internet

Sobre trabalhar debaixo das cobertas, mas se contentar em ver a cara do teu afilhado pelo Facebook

Estou trabalhando de casa. Além de escrever este texto, tenho também que fazer algumas revisões e ainda há uma call marcada pra hoje à tarde. Meu sofá está um pouco velho, mas se eu colocar uma almofada nas costas e outra sobre as pernas, consigo posicionar meu laptop e trabalhar confortavelmente por mais algumas horas.

Ao mesmo tempo, estou conectada à conta do PapodeHomem, publicador, e-mail profissional e minha página pessoal do Facebook, que estou usando pra assistir a esse vídeo aqui do artigo. Vocês que estão me lendo provavelmente estão conectados a outras contas também, alternando esta página com a do e-mail quando alguém passa atrás da cadeira.

Lá pra sexta-feira, quando formos pro happy hour depois do expediente, as chances de que sentemos à mesa e o assunto surja são bem grandes – “nossa, fornecedor tá me mandando e-mail a essas horas, cara… A internet é isso aí, ingrata. A gente não consegue mais desconectar do trabalho. Melhor eu responder, senão ele pode achar que o ignorei”.

No domingo, nossas esposas vão demorar quinze minutos a mais pra ficarem prontas e vamos sair de casa um pouco atrasados pra encontrar a Carla e o Roberto na churrascaria, mas tudo bem. “Trouxe o celular, amor? Passa um whats pra Carla, avisa que em dez a gente tá lá!”.

Agora à tarde, a Internet resolveu se pronunciar.

"Oi. Você não está me reconhecendo? Sou a internet. Precisamos conversar."

Neste vídeo, a moça está meio chateada com a raça humana – parece que a gente anda atribuindo à ela responsabilidades que não lhe cabem e, depois, a culpando pelas consequências. Além disso, veja só, a gente nem lembra mais de agradecê-la quando trabalhamos debaixo das nossas cobertas ou quando podemos terminar a maquiagem com calma porque recebemos uma mensagem do nosso amigo, que já avisou que também vai atrasar.

O vídeo da agência digital de publicidade DZ está rodando o Facebook e nos lembrando de coisas positivas que a tecnologia da internet nos trouxe: cruzamento de dados, conexão entre pessoas e instituições, comunicação instantânea, maior acesso à informação… a lista segue.

Então, se nos contentamos em ver a cara do filho do nosso melhor amigo pelo Facebook, se não desconectamos do trabalho pra tomar uma cerveja, se usamos o Snapchat pra disseminar revenge pornIsso é na nossa conta.

As práticas que adotamos são de nossa responsabilidade – nos cabe aprimorá-las como melhor nossa maturidade nos permitir, assim como o modo como decidimos dispor das ferramentas que temos em mãos.

Obrigada, moça.


publicado em 18 de Agosto de 2015, 16:36
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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