O que você faz com o tempo que te resta?

Vivemos na era da falta de tempo

Raras são as pessoas que conheço hoje que parecem ter seu tempo sob controle.

O “mal da falta de tempo” parece permear sobre a sociedade moderna em todos os seus aspectos:

Falta de tempo para dormir, estudar, ler mais do que gosta, ter ócio criativo, viajar, praticar esportes, ficar mais com a familía e pessoas amadas, trabalhar melhor, se exercitar melhor, comer melhor, ou até mesmo ficar sem fazer nada (o que é muito importante às vezes).

— Opa! Quanto tempo! Como vai?
— Correria, como sempre!
— E aí, Alfredo, beleza?
— Aaah, sabe como é né? Correria.

Tudo é correria, pressa, agitação. Nada é feito como deve ser feito, com o seu tempo.

Quem não está na correria parece não estar no ritmo certo. Mas…. qual é o certo?

Apesar de ouvir todos os dias as mesmas reclamações de falta de tempo das pessoas que estão na “correria”, nunca me parece que elas estão com falta de tempo para as redes sociais, o Whatsapp, ou assistir TV, por exemplo.

A concepção de tempo

Nós conseguimos aprender muitas coisas fascinantes com os gregos antigos, mas infelizmente não aprendemos um dos conceitos mais valiosos deles: a definição de tempo.

Sábios que eram, já entendiam há muito que o tempo não pode ser mensurado de uma maneira só. Tanto que tinham duas palavras para se referir a ele: chronos e kairos.

A concepção de chronos é bem simples e fácil de entender: é o tempo mensurado pelo relógio. É literalmente 3 horas da tarde quando são 3 horas da tarde, é saber que um filme de 120 minutos vai acabar as 22:00 se você começou assistir às 20:00. É o tempo do relógio, ditado e cronometrado apenas por ele, controlado pelo movimento dos ponteiros.

É muito fácil adotar e mensurar chronos, então nós utilizamos apenas ele. Nós conseguimos medir como o usamos para ter certeza de que tudo está certo e dentro do planejado.

Kairos é diferente: é a parte qualitativa do tempo. E, para ser qualitativo, precisa da sensibilidade, do toque humano.

Kairos é geralmente entendido como uma janela de oportunidade criada por circunstâncias, Deus, ou o destino. É geralmente o tempo ideal para atacar, pedir em casamento, ou de tomar qualquer ação. É também aquela liberdade de desligar o despertador no sábado e acordar a hora que for. É sair para almoçar com alguém e ficar horas conversando e parecer que foram minutos. É a eternidade dos 5 minutos finais de uma aula chata. É se perder na sensação de “flow” quando trabalhamos com prazer.

Chronos é prático: faça isso, não faça aquilo, crie sua lista, trabalhe das 9h as 17h e por ai vai….

Kairos é sensível e sabe o momento certo para você. Chronos apenas vê o relógio.

Kairos entende que nosso melhor trabalho pode acontecer em 4 horas por dia. Chronos impõe que fiquemos 8 horas, mesmo não dando nosso melhor.

Kairos entende que um projeto grande demore anos para ficar pronto da maneira como deve ser. Chronos não.

Kairos entende contexto, chronos apenas quer as coisas acontecendo.

A ansiedade causada pela nossa perspectiva de tempo baseada em chronos é o menor dos nossos problemas. Chronos nos deixa presos e fracos como humanos.

Para chronos, Steve Jobs, Barack Obama, Elon Musk, todos tem as mesmas 24 horas em um dia que você. Já para kairos, isso não faz o menor sentido.

Vivendo sob demanda

Chegamos em um ponto onde não sabemos o que fazer com nós mesmos se nosso tempo não está sendo demandado por notificações automáticas. Em um senso, vivemos sob demanda. Nossa vida está em piloto automático.

Nós esperamos por emails, mensagens de texto, o próximo “like” na nossa foto no Facebook. Rolamos o Instagram até saciar nossa vontade de ver o que quer que seja.

Quando paramos, sem fazer nada, ficamos agonizados.

Assim como é muito importante o equilíbrio de corpo, mente e alma para podermos atingir os nossos sonhos e objetivos na vida, o modo como utilizamos o nosso tempo é igualmente importante.

E não importa o que façamos, parece que o nosso tempo está cada vez mais escasso.

Faltam horas, às vezes até dias inteiros para conseguirmos realizar tudo o que gostaríamos em um único dia.

Mas, será mesmo? O que nos falta?

Organizando melhor nosso tempo

Há quem diga que o tempo é nosso bem mais precioso. Quer você concorde ou não, uma vez gasto, ele se foi. É um recurso não renovável.

Nesse aspecto, gosto muito da analogia de que, assim como em uma empresa, temos vários sócios em nossas vidas. E, enquanto o ativo de uma empresa é monetário em dinheiro e ações, o nosso ativo é o tempo.

Então, todos os nossos sócios são as atividades e pessoas a quem dedicamos nosso tempo.

De cara, nosso maior sócio é a cama: passamos 33%, ou ⅓ do nosso tempo dormindo. Isso, claro, para quem dorme 8 horas por dia. As outras 8 horas, geralmente passamos trabalhando, ou estudando. Ainda sobram mais 8 horas para o seu dia. Como você passa, ou gostaria de passar elas?

Olhe para o seu celular. Quantos aplicativos lhe enviaram notificações nos últimos 5 minutos? E na última hora?

O maior problema das notificações é o fato de como você volta para sua última atividade. Geralmente, a cada momento de distração, demoramos cerca de 20 minutos para realmente engajar em nossas atividades novamente. Uma notificação ou interrupção pode vir em um instante, mas seus efeitos duram muito mais.

Um estudo da Microsoft mostra que nosso tempo de atenção está cada vez menor, comparável, ou até mesmo menor do que um peixe. Em 2013, nossa média de atenção caiu para 8 segundos, 4 segundos a menos do medido em 2000, quando era 12.

Muito me admira você ainda estar lendo esse texto, sem ter sido interrompido por nada.

Facebook, WhatsApp, Instagram são geralmente os maiores protagonistas das nossas notificações/distrações. (Não se esqueça que todos esses produtos são de uma empresa só.)

Pensando então dessa maneira, é muito importante refletir:

  • Quais são os seus sócios? Quem/o que está tomando mais tempo na sua vida?

Uma semana utilizando o software gratuito RescueTime me fez refletir, ao ver que passava ao menos 4 horas no Facebook, por exemplo, a cada semana.

Recentemente, Nir Eyal, especialista em hábitos, fez uma análise do modelo que produtos formadores de hábitos utilizam em seu livro “Hooked”. Ou seja: muitas pessoas brilhantes estão trabalhando duro nesse instante exatamente para isso: fazer com que passemos cada vez mais tempo utilizando certos produtos.

Se, por um lado, existe essa artilharia pesada, não pense que você está indefeso. Do outro lado existem ténicas simples, suas aliadas nessa batalha: desligar as notificações do seu celular, ou mesmo ligar o modo avião, mesmo fora do avião. São ações simples e muito eficazes. Use a tecnologia a seu favor, não deixe o contrário acontecer.

Vamos continuar conversando sobre o tempo? 

Para falar de controle do nosso tempo, precisamos abrir mais nossa discussão.

Precisamos falar de mindfulness, organização, saúde, sono, alimentação, desconectar do mundo, períodos sabáticos, futurismo, o mundo em que vivemos. Precisamos olhar para a vida sob nova perspectiva. Tudo muda rápida e constantemente, e precisamos continuar a fazer o que a humanidade tem feito tão brilhantemente até hoje: nos adaptar.

Com tudo isso, quero convidar todos a participar da minha nova iniciativa, o HackLife. Nos próximos dias 29/6 e 6/7, das 19h30 às 22h30 vou promover um workshop sobre como podemos hackear nossas vidas, na Perestroika, em São Paulo/SP.

Deixe-me explicar: o hacker, por definição é o indivíduo que conhece um sistema extremamente bem, pela experimentação e exaustão de métodos. Graças a esses conhecimentos, um hacker frequentemente consegue obter soluções e efeitos extraordinários, que extrapolam os limites do funcionamento “normal” dos sistemas.

A vida é só mais um sistema, que pode ser entendido a fundo e hackeado.

Não existe fórmula mágica, não existe artigo sobre os 10 hábitos das pessoas felizes, ou ainda uma dieta que vai te dar uma barriga tanquinho em 2 semanas. O que existe é a experimentação, e saber o que funciona melhor para cada um de nós.

É nesse contexto, entendendo cada vez mais sobre nós mesmos e a vida, que podemos realmente ser hackers de nós mesmos.

Juntos, podemos fazer muito mais, a idéia não é fazer só mais um workshop, e sim criar um grupo de apoio e discussões para podermos embarcar nessa jornada juntos.

Para os leitores do PapodeHomem, estou oferecendo uma condição especial.

Quer saber mais informações? O link é esse.

Espero vocês!

Referências

Talvez esse vídeo elucide ainda mais a questão do nosso tempo, ele mostra brilhantemente, com jujubas (!) o nosso tempo:

Parte desse texto foi inspirado nessa peça brilhante do Art of Manliness, “Stop Hacking your Life”.


publicado em 24 de Junho de 2015, 10:07
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Renato Stefani

Apaixonado pelo desenvolvimento pleno e integral do ser humano, em busca do equilibrio entre corpo, mente e alma, aliando desenvolvimento tecnólogico ao despertar da consciência. Sou o fundador do Hack Life, instrutor de Yoga certificado pela International Sivananda Yoga Vedanta Centre, especialista em futurismo e tecnologias exponenciais pela Singularity University.


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