O que os homens pensam quando...?

No final de junho fomos convidados pela Glamour pra participar de uma matéria especial sobre sexo.

O mote girava em torno do que atravessa a mente dos homens em diferentes situações.

Recebemos a seguinte lista de perguntas, gerando bons debates na sala de conteúdo:


  • O que os homens pensando quando... fazemos sexo anal?

  • ...eles veem a gente gozando?

  • ...quando a gente transa no primeiro encontro?

  • ...quando eu tento um movimento novo?

  • ...se masturbam? Pensa em quem? É em mim(a namorada)?

  • ...recebem sexo oral?

  • ...fazem sexo oral nela?

  • ...rola um “queef” (pum vaginal)?

Minha resposta

"Penso que perguntar a um homem sobre "O que ele pensa quando..." não é uma boa abordagem, por conter premissas traiçoeiras.

Ao responder o que eu penso quando algo específico acontece, vou pensar em todas as vezes em que isso aconteceu, vou tentar me lembrar do que posso ter por ventura pensado e vou racionalizar uma resposta que me pareça agradável, sincera e coerente, tal qual a imagem que aspiro passar de mim mesmo.

Ou seja, as respostas serão forjadas.

Todos os meus sentimentos e pensamentos que já surgiram sobre as perguntas acima, surgiram em relação. Ou seja, foram coerentes somente no contexto em que surgiram, pelo modo como eu me conectava com a outra pessoa.

Absorver e torcer o que senti e pensei, em cada relação, para transformar numa única resposta não seria verdadeiro.

Acredito, no entanto, que essas perguntas são bastante comuns e daí surge a ideia de buscar respostas para elas. Porém, todas me parecem vir de um mesmo local: ansiedade, medo, controle e não-confiança.

Em relações que aspirem uma boa base – mais franca e vulnerável, menos ansiosa, menos interessada em agradar o outro o tempo todo – não temos respostas únicas.

Posso me sentir mal fazendo sexo anal com uma pessoa, em certo momento, e me sentir atingindo uma conexão única fazendo a mesma coisa com outra pessoa; ou com a mesma pessoa, em outro contexto. O mesmo vale para sexo no primeiro encontro, tentar novos movimentos, fazer sexo oral, receber sexo oral ou presenciar um "queef".

Durante o bom sexo (coisa rara), mais sentimos do que pensamos. Entramos em fluxo. Quando deixamos de estar presentes, começamos a performar, medindo tudo obsessivamente.

Quem está em performance se preocupa em saber o que o outro pensa a cada momento. Quer agradar, conquistar, evitar qualquer possível erro.

Quem está tranquilo confia. Explora, dá risada e erra junto, lado a lado.

Acho que o mais saudável seria de cara admitir que estamos com medo e confusos e, a partir daí, buscar viver relações com os pés no chão e sem exigir do outro algo que nós mesmos não podemos oferecer.

Seria uma lufada de ar fresco."

* * *

A repórter, Bia, foi pra lá de simpática ao dizer que considerava o trecho bastante coerente, mas não era bem essa a expectativa da revista. Falei que gostaria de publicar um artigo aqui sobre isso e ela pediu que fosse após a edição de agosto ser publicada. Hoje fui a uma banca. O escolhido para responder as perguntas foi Alexandre Frota.

As respostas do Frota

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* * *

Será que o Frota sempre "fica louco" ao receber um boquete? Será que sempre bate uma pensando no cheiro da mulher que está com ele? Mesmo após anos de relação?

Compreendo a força do personagem e da fantasia. No entanto, mais do que trucar as respostas do Frota, me pergunto o que passa pela cabeça das mulheres ao ler essa matéria. Arrisco uns chutes:

"Por que meu namorado não consegue me fazer gozar mais vezes?"
"Quando vou encontrar um homem tão bom de cama, pra me levar às alturas?"
"Será que devo chamar minha amiga para um ménage?"
"Por que me casei com esse ser porco e barrigudo assistindo UFC no sofá enquanto me deixa sozinha no sábado à noite, de novo?"

O universo das revistas masculinas não opera distante dessa lógica.

Elas lêem sobre machos viris e como se tornarem rainhas do sexo.

Nós lemos sobre mulheres insaciáveis e como nos tornarmos garanhões.

Na cama, interpretamos papéis. Mais fácil e prazeroso do que realmente encontrar uma pessoa inteira, em seus medos, anseios, sonhos, dúvidas, desejos e inquietações, é executar truques e fazê-la gozar, múltiplas vezes.

"Sem sexo, seríamos perigosamente invulneráveis. Poderíamos acreditar que não somos ridículos. Não conheceríamos rejeição e humilhação tão intimamente." – Alain de Botton
"Sem sexo, seríamos perigosamente invulneráveis. Poderíamos acreditar que não somos ridículos. Não conheceríamos rejeição e humilhação tão intimamente." – Alain de Botton

Gostaria de ler mais sobre brochadas, humilhações, confusões e inseguranças. Ler sobre como esfriar e abrir relações.

"Mas isso não vende, Guilherme.", alguém poderia dizer. Sim, não mesmo, mas será que vendas deveriam ser um critério com tamanha influência?

Apenas para deixar claro, não eximo o PdH desse paredão. Essa crítica coloca vários de nossos artigos na parede. Nos faz olhar em volta e refletir sobre o que diabos estamos fazendo.

Afinal, qual é a função das revistas femininas e masculinas?

ps.: agradeço a Glamour pelo convite, pela abertura em abrir esse debate livremente por aqui e espero seguir em boas conversas com eles. Acredito que enfrentamos alguns desafios parecidos.


publicado em 02 de Agosto de 2013, 23:15
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Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


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