Nosso adorável encanador

Na sala de espera do dentista vi uma edição da Forbes. Saca a Forbes? Aquela revista de economia que sempre faz com que você se sinta um lixo. Ela mostra empresas e pessoas que ganham milhões de dólares por hora, enquanto você está ali, parado, esperando para fazer um tratamento de canal e gastar os poucos reais que lhe restam.

Aquela edição em especial falava das marcas mais valiosas do mundo. Para ser sincero, li o começo da matéria, mas não tive paciência para terminá-la. Eram muitos dados, imagens de pessoas bem sucedidas e direcionamentos de marketing ultra complexos que não me interessavam em nada.

No auge de toda aquela avalanche de informações vi o símbolo da Nintendo em destaque. Num momento de lucidez cheguei a uma conclusão que realmente interessante para a sociedade. Ou pelo menos para mim.

O Super Mário é um encanador.

Você entende a importância disso?

Cena do filme Super Mário Bros. Nosso herói era mais modesto

Em um mundo repleto de marcas famosas e personalidades biliardárias, o Super Mário é um simples encanador, um sobrevivente de tempos onde o capitalismo costumava ser menos voraz. Não entendeu? Eu explico.

Em 1985 a Nintendo lança o Super Mario Bros., game criado pelo designer Shigeru Miyamoto. Não sei qual era o propósito desse japonês maluco, mas a história de sucesso do Mario é conhecida por todos. O encanador gordinho de bigode engraçado se transformou na mascote e garoto propaganda de uma das maiores empresas de entretenimento do mundo, a Nintendo.

Isso é quase como se o Steve Jobs, co-fundador da Apple e garoto-propaganda da empresa, ao invés de ser um velho hype descolado fosse um ajudante de pedreiro de um subúrbio qualquer.

Dá pra imaginar?

Jogar Super Mário com iPhone e iPad. Por que não?

Sou adepto da teoria de que Super Mario, além de um dos principais formadores de caráter das décadas de 80 e 90, também é um dos pouquíssimos gritos de simplicidade que temos nesse atribulado século XXI.

Em tempos de consumismo desenfreado, quando camisas com pequenos jacarés no peito custam verdadeiras fortunas e atores de hollywood ganham milhões de dólares para representar marcas da moda, prefiro persistir na genialidade de uma caixinha de cigarrinhos de chocolate Pan com um menininho negro alegre que fingia fumar. Ou até mesmo aqueles pequenos guarda-chuvas de chocolate que, provavelmente, vinham de fábrica administrada por uma pessoa desconhecia o significado da palavra marketing.

Super Mario é um dos poucos sobreviventes desta época de ouro que não vai voltar. Ou você acha que a Armani vai contratar um segurança de buffet para estrelar a coleção do próximo verão? A Nike vai patrocinar o lixeiro que passa na sua rua e corre 10 quilômetros por dia para divulgar sua coleção de tênis de corrida? Não, não vai. Vai é chamar o Ronaldo pra fazer isso.

Em tempos assim, encanador só vai ser chamado de ‘super’ em um daqueles roteiros toscos de filme pornô.

Uma pena.


publicado em 03 de Julho de 2011, 05:00
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Luiz Gallo

Filho do seu Walter e da dona Leni, Luiz Gallo (@luiz_gallo) é jornalista, roteirista, odeia pés e não dispensa uma cerveja gelada num barzinho de esquina. Aqui no PdH dispara textos na série "Entre umas e outras".


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