Movember: um bigode pela saúde masculina

Cá entre nós, qual foi a última vez que você procurou um médico sem que estivesse quase morrendo? Melhor ainda, com que frequência você procura um médico quando, aparentemente, não há nada de errado?

Se você é como a maioria dos homens, provavelmente faz parte dos 68% que só vão ao médico já com um quadro de emergência configurado, e isso é realmente um problema. Em média, as mulheres vivem 7 anos mais do que os homens e não há qualquer razão biológica que justifique isso, apenas mais de zelo consigo mesmas.

Ainda falando de números baixos, 40% fazem check-up regularmente e 13%, acredite, nunca botaram os pés em um consultório desde que passaram a cuidar da vida por conta própria – ser arrastado pela mãe não conta.

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A situação piora, dependendo da idade e da localização geográfica (não por deficiência do serviço de atendimento, mas por características culturais). E, nesse aspecto, não faz muita diferença se falamos do Brasil, dos Estados Unidos, da França ou da Austrália.

Foi na Austrália por sinal, que surgiu dentro de um pub, em 1999, o movimento Movember, expressão que combina as palavras moustache (bigode) e november (você sabe, o mês), para chamar a atenção dos homens para questões que envolvem a sua saúde, como o câncer e a depressão. A partir daí, todos os participantes do movimento começam o mês com o rosto raspado e vão compartilhando no site do movimento e redes sociais, orgulhosos, a evolução de seus bigodes.

Em 2003, a iniciativa foi transformada em fundação e a campanha começou a se espalhar para outros países, o que significa que completa 10 anos agora.

Além da disseminação de várias informações relevantes (prevenção, atividade física, alimentação, estados emocionais, etc), os bigodes também se mobilizam para arrecadar recursos para pesquisas e centros de atendimento especializados.

Em 2012, mais de 1.1 milhões de Mo Bros e Mo Sistas em todo o mundo aderiram ao movimento. Só nos EUA, mais de 209 mil participantes conseguiram arrecadar belos US$ 21 milhões (US$ 9.8 milhões em 2013, até o momento em que este texto foi redigido, mas atrás do Canadá, que contabiliza já US$ 11.7 milhões).

Encaminhando o assunto mais para o humor do que para drama, o principal objetivo dos Mo Bros é mudar a cara da saúde masculina (esse é o lema) e reverter essa maneira de pensar, dando aos homens a oportunidade de falar sobre a sua saúde sem pudores e preconceitos. E funciona: na pesquisa realizada em 2012 (em cima da campanha de 2011), ficou constatado que as redes sociais geraram mais de 1.9 bilhões de citações, 20% dos participantes procuraram seus médicos para exames, 67% recomendaram que seus amigos procurassem um médico e 43% se tornaram mais conscientes dos riscos que correm com relação à saúde.

Talvez seja isso que tenha levado os jogadores do time inglês de rugby, o Wolverhampton Wolverines, a comparecerem em um programa de televisão para fazer o autoexame nos testículos ao vivo, sob a orientação de um médico.

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Apesar do câncer de testículo ser um tumor menos frequente, é o que tem maior incidência entre jovens dos 15 aos 34 anos, e a prevenção é muito simples, basta uma verificação mensal enquanto toma banho, por exemplo. Se detectado a tempo, 99% dos casos são revertidos. No Brasil, o câncer de testículo atinge cerca de 8.300 homens e mata 350 por ano, chegando a ser tema da novela 'Insensato Coração', em 2011.

A partir dos 40 a preocupação maior é com o Câncer de Próstata e todo mundo corre da dedada, mas antes que ela seja realmente necessária, exames regulares para a medição do PSA (Prova do Antígeno Prostático) no sangue servem de base para acompanhamento e orientação em relação ao câncer de próstata. Quando há alterações, o tratamento é encaminhado para um especialista.

E mesmo que chegue a sua hora, relaxa, ninguém se torna menos homem por causa disso. Pior é saber que 1 a cada 6 homens poderá ter câncer de próstata e o desenvolvimento da doença é acompanhada de muito sofrimento até o óbito. Diagnosticados logo de começo, 90% dos casos de câncer são curáveis.

No Brasil , o Movember é tratado como “Novembro Azul”, em contraponto ao “Outubro Rosa”, mas não se trata da mesma coisa. Colocaram um bigode azul inflável na fachada do Centro de Referência em Saúde do Homem, em SP, vários monumentos e prédios públicos foram iluminados com a cor azul e folhetos foram distribuídos em estádios de futebol, mas não há uma verdadeira campanha de conscientização, que tem como foco somente o câncer de próstata, com medidas de prevenção a partir dos 50 anos.

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Alguns poucos posts que vi no Facebook são tratados com muita imaturidade e a mensagem tende a se perder. Se fosse para ser relevante, o Ministério da Saúde envolveria atores e outras celebridades para deixar o bigode crescer. Imagine um Willian Bonner deixando o bigode crescer ao longo de novembro no horário nobre? Isso acontece em outros lugares no mundo com excelentes resultados.

Este é o meu primeiro na como um Mo Bro. Ainda que tenha deixado a barba crescer em vários outros momentos – mais por relaxamento do que por estilo – é a primeira vez que ostento um bigode. Outras campanhas surgiram no mundo inspiradas no Movember, mas um “No Shave November” não tem o mesmo efeito.

Fora os posts no Facebook para a campanha, onde as opiniões se dividiram logo quando a foto de perfil mudou para um close nos os primeiros pelos, surgiram várias outras oportunidades para falar do Movember pelo simples fato das pessoas acharem estranha a presença de um bigode – é este o objetivo.

Enfim, mais da metade do mês em curso, você pode deixar para cultivar um bigode de respeito no ano que vem, mas ajuda, e muito, se desde já se conscientiza da pauta, dá mais atenção à sua saúde e passa esta ideia a diante.


publicado em 22 de Novembro de 2013, 06:24
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Marcelo Ivanovitch

Trabalha com planejamento estratégico, é nerd e filósofo de botequim. Em 2013 foi o seu primeiro Movember. Justificava que a cara de cafajeste era por uma boa causa até dizerem que ela sempre esteve lá, só faltava o bigode.


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