Justin Bieber: o que podemos aprender com esse moleque

Ok, esqueça a imagem, a duvidosa qualidade musical, as fãs irritantes e tudo aquilo que é senso comum quando falamos de Justin Bieber. Em tempos em que posicionamento nas mídias sociais é assunto corporativo, tente vê-lo apenas como um case.

O moleque completerá apenas 17 anos no mês que vem, mas já tem os vídeos mais acessados do YouTube e é o cantor mais jovem a chegar ao topo da Billboard desde Stevie Wonder, em 1963. Em pouco tempo de carreira, já lucrou mais de 100 milhões de dólares e alguns analistas dizem que ele é a pessoa mais influente da Internet, à frente até mesmo de Barack Obama.

Mas, a menos que você seja uma menina de 12 anos (ou conviva com uma), provavelmente sua noção sobre esse canadense de voz fina seja um pouco vaga.

Mesmo sem barba na cara, ele já foi mais longe do que muito marmanjo
JB

Com menos de duas décadas de vida, ele venceu na semana passada o prêmio de artista revelação no Brit Awards, já possui uma biografia publicada e acabou de ter seu filme 3D Nunca DigaNunca lançado mundialmente. Mas qual é o segredo de tanto dinheiro e sucesso precoce? O que leva tantas garotas enlouquecidas a gostarem de um menino que nem voz de homem ainda tem?

A resposta de tudo isso, companheiros, é muito mais simples do que se imagina: o uso sábio da mídia. Justin Bieber é produto do mundo globalizado, da internet, do Twitter, do YouTube. Diferente de outras celebridades, Bieber e sua equipe usam a mídia e todas suas ferramentas possíveis de maneira favorável e as enxergam não apenas como meio de divulgação, mas como uma extensão de seu trabalho.

Mas, acalme-se. Antes de irmos adiante, é bom darmos uma parada para saber um pouco sobre os anos dourados do menino Justin.

Como conquistar o mundo durante a puberdade

Provavelmente influenciado por sua mãe, ele já demonstrava paixão pela música muito cedo. Justin aprendeu a tocar piano, violão, bateria e trompete sozinho. Aos 12 anos ficou em segundo em um concurso de talentos e, pouco tempo depois, começou a colocar vídeos de si mesmo no YouTube cantando covers de músicos americanos. Naquela mesma época, ele, sozinho novamente, começou a se apresentar nas ruas da cidade onde morava em troca apenas das moedas que os pedestres deixavam. Com esse trampo, ele acabou levantando quase 3 mil dólares em um único verão.

Enquanto isso, os vídeos no YouTube atraiam a atenção de mais gente. Entre essas pessoas estava Scooter Braun, um cara que sabe das coisas e que viu em Justin um árvore de dinheiro. Depois de convencer a mãe do moleque a deixá-lo ir a Atlanta e assinar com a gravadora de ninguém menos do que Usher, Braun o ajudou a produzir mais e mais vídeos, usando, entretanto, equipamentos de gravação caseiros.

A estratégia por trás disso era fazer com que seu pequeno grupo de fãs fizesse todo o trabalho de divulgação na internet para que, assim, elas se sentissem como parte da carreira do jovem Justin. E foi isso o que aconteceu.

Link YouTube | Um de seus vídeos caseiros. O mau gosto capilar já vem antes da fama

Braun e agora a equipe de agentes por trás do pequeno Bieber sabiam que dar um tapa no visual do garotinho, fazê-lo cantar musiquinhas de amor e exibir sua virgindade como um sabre de luz eram coisas capazes de derreter o coração de qualquer adolescente. Para garotas que estão largando a boneca, mas ainda não estão prontas para se relacionarem com garotos de verdade, encontrar um Justin Bieber para idolatrar pode ser a única rota segura para aprender a lidar com as próprias emoções.

Braun sabia disso e, mais importante, sabia também onde esse público passava horas e mais horas de seus dias: na internet.

Posso estar errado, mas arrisco dizer que Justin não seria Justin se não fosse a maledeta internet. É por meio dela que suas fãs assistem seus vídeos, descobrem o nome do seu cachorro de estimação, interagem, criam fã clubes, fofocam, criam boatos e tudo mais. Será que ele ou seu empresário ficam putos com tudo isso ou sequer falam de superexposição? Duvido, meu caro, principalmente depois de darem uma conferida no extrato bancário.

Justin vê a internet como amiga. É simplesmente parte de seu trabalho – ou de algum estagiário de sua equipe – atualizar seus perfis em redes sociais, colocar vídeos no YouTube, um tweet aqui, outro acolá. Tudo focado pura e inteiramente no entretenimento e na conquista de mais fãs. Parece estar funcionando, não?

Será que a mãe dele se preocupa se anda em boa companhia?

A biografia de uma vida que mal começou

Apesar de tudo isso, 2010 passou e Justin e Braun sabem que as coisas serão cada vez mais complicadas. Mesmo que, até agora, ele tenha conseguido evitar as espinhas, sua voz vai acabar engrossando, sua barba vai acabar nascendo e, pior, suas fãs vão acabar crescendo.

Justamente por isso, o lançamento de Nunca Diga Nunca – que conta, em três dimensões, a história de Justin desde sua infância – é, mais uma vez, uma jogada de gênio.

No começo de sua carreira, as fãs foram levadas a acreditar que Bieber era fruto de sua própria descoberta e que seu sucesso era devido à dedicação de suas milhões de seguidoras. Agora, em vez de assumir que ele foi engolido pela indústria fonográfica e transformado em uma super estrela que serve apenas para lucrar milhões de dólares, eles estão abrindo as portas e convidando aquelas mesmas fãs para entrarem na casa daquela família simples em que o cantor cresceu e, com a ajuda de um óculos 3D, terem a chance de alcançar e segurar a mão do pequeno Justin do jeito que sempre sonharam.

É, temos mesmo muito a aprender com esses caras.


publicado em 21 de Fevereiro de 2011, 11:20
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Thiago Rocha Kiwi

É nosso correspondente em Londres. Jornalista, nascido e criado na selva paulistana, gosta das oportunidades desafiadoras. Apaixonado por informação e conhecimento, enxerga o trabalho como uma forma de evolução e a internet como revolução. No Twitter, @thiagokiwi.


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