Favorité Tabacos, minha segunda casa

Há pouco tempo, em um momento de inspiração, o Guilherme escreveu sobre a segunda casa de todo homem. Imediatamente me identifiquei com uma das opções apontadas como candidatas à segunda casa: a charutaria.

O meu primeiro contato com a minha segunda casa começou com um despretensioso passeio ao shopping. Eu buscava um presente para o meu irmão que fazia aniversário. Meu irmão havia perdido seu porta-charutos, então pensei em comprar um substituto. Fui até a loja Favorité Tabacos que ficava no segundo andar.

Em comparação a uma loja normal, a faixada dessa tabacaria era extremamente estreita e pequena. Havia uma porta ao centro e duas vitrines exibindo relógios, maletas de poker, canivetes, além de diversos outros acessórios masculinos à venda. Parecia uma tabacaria como qualquer outra e, como eu já sabia o que iria comprar, entrei logo e me dirigi até a vendedora no balcão.

Perguntei pelo porta-charutos que buscava, mas infelizmente ela não sabia do que se tratava. Ela então me explicou que não era vendedora, era apenas responsável pelo café. Café? Que Café? Onde? Aquela era uma tabacaria realmente pequena com não mais do que 5x3 metros. "Que café?", perguntei.

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"A sala que eu teria construído"

Ao fundo da tabacaria havia uma porta de vidro com um adesivo que dizia Cigar Lounge. No lado de dentro a tabacaria reservava uma agradável surpresa aos seus clientes, uma área de degustação de charutos com espaço para não mais que uma dezena de clientes.

O lounge, escondido no fundo da loja, é desconhecido da maioria dos visitantes do shopping que passeiam pelos corredores do segundo andar. Por outro lado, muitos funcionários do shopping e clientes frequentes utilizam o Lounge da Favorité como um espaço onde podem saciar seu vício por um cigarro sem que tenham que descer um andar, procurar a saída e buscar a rua onde podem fumar.

O Lounge conta com sistemas eficientes de exaustão que impedem a característica fumaça dos charutos de impregnarem o ambiente. Com um confortável sofá encostado na parede, 3 mesas de madeira com duas cadeiras cada e um balcão com lugar para 4 pessoas, o lounge é tão pequeno quanto todo o resto da tabacaria. Suas paredes amarelas e quadros com charutos e bebidas pendurados tornam o ambiente bastante aconchegante. Eu diria que construiria uma sala exatamente igual em minha casa.

O vendedor havia ido ao banheiro e já que teria de esperar, aceitei provar o café expresso do lounge. Dois clientes fumavam seus charutos enquanto discutiam algo sobre o mercado financeiro. O aroma estava agradável e resolvi pedir um charuto para mim também. Sem saber o que queria, aceitei a sugestão da casa e logo em seguida estava fumando aquele charuto que permaneceria aceso por quase meia hora. Não vi o tempo passar, acabei me atrasando.

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"O mesmo de sempre, senhor?"

Um tempo depois eu estava de volta no mesmo shopping. Iria ao cinema com minha namorada e, já que teria de esperar 1 hora pela sessão, a convidei para tomar um café. Fomos ao Lounge da Favorité e como a aroma estava agradável, resolvemos pedir um charuto fraquinho para que conseguíssemos fumar juntos.

Outro dia a cena se repetiu quando eu almoçava no shopping com um colega. Fomos até a Favorité onde, pela primeira vez, combinei um Dona Flor Robusto capa escura com uma dose de Scotch 12 anos. Desde então, passei a inventar todo o tipo de desculpas para matar tempo na tabacaria, fumar um Dona Flor e beber um cafézinho.

Depois de visitar a casa algumas vezes comecei a reencontrar os mesmos clientes de sempre que frequentavam o Lounge. Percebi que a clientela era fiel e muito pouco rotativa. Fiquei amigo de alguns funcionários do shopping que dão uma paradinha por lá em seus intervalos, fiquei amigo de senhores que dissertam verdadeiras palestras sobre seus charutos favoritos, descobri que há muitos outros jovens na minha faixa etária que compartilham o mesmo hobby.

Levei minha namorada até lá mais uma dúzia de vezes e, no final de semana que não levei, fui questionado pela razão de não termos ido. O Dona Flor Robusto capa escura com uma Bohemia para mim e um Dona Flor Petit Corona capa clara com um Capuccino para minha noiva viraram ritual do final de semana.

Em outra ocasião acabei perdendo a hora apreciando meu charuto enquanto conversava com outros clientes do estabelecimento. Era dia de jogo do Grêmio e eu havia esquecido completamente o horário em que a partida começaria. Tipicamente eu iria até o bar mais próximo com chopp gelado e uma enorme TV de Plasma, mas era tarde demais. Até chegar ao bar, já teria perdido o 1o tempo do jogo.

Eis que o pessoal da Favorité liga o sistema de som ambiente na Rádio Gaúcha com a inconfundível narração de Pedro Ernesto Denardin.

Em tempos de Internet, streaming ao vivo e TV digital no celular, eu havia esquecido a mágica do futebol narrado no rádio. Cegos, confiando apenas no sentido da audição, sem total compreensão do que estava acontecendo, fomos levados pela emoção do narrador. Desculpem-me os fãs, mas Galvão Bueno jamais conseguiu transmitir tamanha emoção.

Aquela partida foi um marco. Desde então passei a ouvir diversas partidas do tricolor enquanto baforava meu charuto baiano. Hoje, conheço todos os funcionários da Favorité e sempre sou tratado como se estivesse em casa. Não preciso pedir, todos sabem o que vou querer. Me conhecem pelo nome, sabem quanto tempo vou ficar, sabem quando prefiro ficar sozinho conversando com minha noiva, sabem quando estou empolgado para discutir sobre a gripe suína.

Por fim, aviso que esse não é, de forma alguma, um artigo patrocinado. Eu chamaria de artigo de reverência. A Favorité Tabacos merece, tanto quanto minha própria casa.

E você? Aprecia seu charuto onde?


publicado em 28 de Julho de 2009, 06:19
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Rodrigo Almeida

Engenheiro, apaixonado pela vida e por qualquer coisa com um motor potente, nostálgico entusiasta de muitas daquelas boas coisas que já não mais se fazem como antigamente.


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