Eu, você e a calvície

Poucas coisas são unânimes entre os homens, mas existe um momento que quase todos os seres do sexo masculino temem. Aquela pergunta informal que o barbeiro faz quando você vai aparar o cabelo, numa inocente tarde de sábado:

"Quer que eu dê uma disfarçada na careca?"

Para grande parte dos homens, a consciência que sua perda de cabelo já é perceptível é chocante. Na verdade, a maioria têm plena noção de que está perdendo cabelo, mas prefere enrolar, passar anos sem tomar alguma atitude. Até que alguém diga explicitamente que a situação está se complicando, poucos se preocupam com a queda dos sagrados fios desde o começo.

Para alguns, demora a chegar, para outros o adeus às madeixas vem cedo. No meu caso, aos 20 anos minhas entradas já davam sinais de que em breve se tornariam saídas e, a cada banho, o meu couro cabeludo se tornava mais visível para quem tivesse o olhar mais apurado. Minha sorte foi ter um barbeiro que desempenhava bem a tarefa de muquiar as falhas e, por muito tempo, minhas entradas passaram despercebidas.

"Quer que eu te mostre onde está todo o meu cabelo, princesa?"

Acontece que de uns dois anos para cá, a velocidade com que eu vinha perdendo cabelo avançou muito e eu já podia sentir que outras partes estavam ficando mais ralas. Na verdade, eu já sabia que cedo ou tarde isso iria acontecer – vários homens da minha família materna são carecas e, como é de conhecimento geral, a calvície tem uma grande ligação com hereditariedade – mas a ideia de me tornar um dos membros calvos da sociedade ainda me assustava.

Fatores como o stress, uso de drogas, medicamentos e má alimentação podem causar a calvície, mas a causa mais comum é a alopécia androgênica, que, acredita-se, possui um forte fator genético. Esse tipo de perda de cabelo começa geralmente pela parte frontal e faz o fio perder densidade na parte de cima da cabeça. O couro cabeludo possui em média 500 fios por centímetro quadrado e diariamente cerca de 100 deles são perdidos por conta do ciclo natural do cabelo, mas com alopecia a queda pode ser muito maior.

Um artigo publicado nesse domingo no The Sunday Telegraph ("The cures for baldness around the corner", que me inspirou a escrever esse texto) comenta que o hormônio diidrotestosterona (DHT) está associado com alopécia androgênica, mas como ele age no organismo é ainda dúvida entre os especialistas. Acredita-se que uma sensibilidade à DHT causa o encolhimento dos folículos, reduzindo a habilidade de produzir cabelo normalmente. Ainda assim, o quadro é meio complicado porque o mesmo hormônio é também responsável pelo crescimento de cabelo em outras partes do corpo.

A maior parte dos homens está sujeita a sofrer de calvície, seja durante a juventude ou na velhice. Grandes caras são ou foram carecas e existe a velha canção que ainda insiste em afirmar que é dos carecas que elas gostam mais. Então, por que será que essa história é vista com tanto incômodo? Por que não encarar a calvície com certo orgulho, da mesma forma que nos sentimos mais homens quando vemos nossos primeiros fios de barba crescendo no queixo, por exemplo?

Matthieu Ricard é a prova de que a careca pode até lhe conceder uma imagem de homem sábio

O mesmo artigo do Telegraph cita uma psicoterapeuta que comenta:

"Se você tem uma cabeça saudável, cheia de cabelo, é uma forma que o corpo tem de dizer que você tem bons genes. Ficar careca pode realmente afetar a forma com que a pessoa se enxerga e isso a faz perceber que ela não é mais tão jovem quanto imagina. A careca nos faz lembrar da nossa mortalidade." –Lucy Beresford

Alguns caras resolvem abraçar a calvície e assumem a careca numa boa. Como a Bel descreveu bem em seu texto mais recente, essa é um alternativa que pode acabar revolucionando a vida de um cara, passando do estilo escovinha leite-com-pera para o careca macho-alfa-comedor.

Durante muito tempo, a única solução para o homem que não conseguia combater a lei da gravidade capilar era usar peruca. Aos poucos, produtos como sprays e outros ainda mais estranhos foram inseridos como opção. Hoje, entretanto, a solução que se mostra mais eficaz é o implante. Popular entre celebridades, políticos e endinheirados em geral, a operação consiste em retirar pequenos pedaços da pele da parte de trás da cabeça que ainda contém folículos saudáveis e implatá-los onde não há mais cabelo.

Outras técnicas mais modernas envolvem a possibilidades de transferir fios da barba para a cabeça e até mesmo a clonagem das células capilares do paciente. Dr. Health já sugeriu 3 treinamentos aqui no PdH.

Com um valor que pode chegar até a casa dos R$ 40 mil, transplante com certeza não era a solução mais viável para mim. Entretanto, desde o ano passado eu havia decidido que, de alguma forma, faria alguma coisa para pelo menos diminuir a minha queda de cabelo.

Transplante é para quem tem grana

Resolvi procurar a ajuda de médicos. O primeiro me receitou a clássica Finasterida, um medicamento que bloqueia a transformação da testosterona em diidrotestosterona, mas que tem como efeito colateral a possível perda da libido. Não sei, sou um pouco conservador com essas coisas. Depois de uma conversa com a Sra. Kiwi, buscamos uma segunda opinião.

O médico seguinte me receitou uma coisa diferente, um medicamento do qual eu ainda não havia ouvido falar: Minoxidil, desenvolvido originalmente para controlar a pressão sanguínea, acabou apresentando uma melhora no crescimento de cabelo de pacientes. Fiquei um pouco na dúvida, li boas recomendações e fui atrás do produto em farmácias por aqui. O problema dessa vez pegou de surpresa outra parte do corpo: o bolso. Cerca de R$ 550 pelo tratamento. Por mais que eu quisesse combater a queda de cabelo, eu não tinha essa grana sobrando para gastar em algo que nem tinha certeza que iria funcionar.

Em janeiro continuei pesquisando sobre o que seria o melhor tipo de tratamento viável financeiramente que pudesse gerar algum bom resultado. Acabei descobrindo um shampoo que usa a cafeína como princípio ativo. A promessa é que o produto (Alpecin, para quem se interessar) estimula o crescimento do cabelo diretamento na raíz e fortacele os fios. Junto com o shampoo, o fabricante recomenda o uso após o banho de um tipo de loção da mesma marca para fortalecer o cabelo e aumentar a chance do surgimento de novos fios.

Tenho usado o shampoo há quatro meses e, desde então, venho notando um aumento bem significante no volume do meu cabelo. Apesar de eu ainda ter minhas clássicas entradas, não tenho mais a sensação de que meu cabelo está desaparecendo. Durante o banho, não há mais o drama de sentir o cabelo caindo e, o melhor, em pouco tempo alguns fios já estão brotando em áreas que já eram totalmente carecas.

Agora, queremos saber de você, leitor PdH, a ideia de ficar careca também incomoda ou você é daqueles que assumiriam a cabeça lisa numa boa? Já usou algum tipo de tratamento que se mostrou eficaz ou ineficaz contra a calvície?


publicado em 27 de Abril de 2011, 10:47
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Thiago Rocha Kiwi

É nosso correspondente em Londres. Jornalista, nascido e criado na selva paulistana, gosta das oportunidades desafiadoras. Apaixonado por informação e conhecimento, enxerga o trabalho como uma forma de evolução e a internet como revolução. No Twitter, @thiagokiwi.


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