Crônica de um desalmado

E dividiram um par de chopes no primeiro encontro, no mesmo lugar em que sua simplicidade roubou seus olhos.

...

Ela gostava de conversar, mas não falava demais. O que era muito bom. Já ali, os momentos de silêncio não pesavam, eram gostosos e devidamente degustados. Davam-no tempo de olhá-la, o que fez muito bem.

Não tentaram se conhecer melhor, já sabiam muito um do outro. Queriam apenas descobrir o que se escondia por trás de seus olhos, mas a falta de convencionalidade transformou-os num casal solteiro. Singular, talvez. Ele tinha pressa. Ela não.

“No começo vem os cumprimentos; depois, os sorrisos e por último, o tiroteio. Mas ninguém fala o que vem após o tiroteio”, pensou ele.

Os cumprimentos foram longos, duraram muitas noites. Noites curtíssimas com o gosto de vontade, volta e meia, de cerveja. Amadureceram lentamente neste tempo, deitados como a garrafa de vinho que tomariam um tempo depois. Doce como o primeiro beijo, que dariam sorrindo.

O momento seguinte passou extremamente rápido, como que numa trapaça da relatividade, deixando apenas a nostalgia das besteiras que fizeram antes. Os clichês passam rápido, por sorte, mas eles não eram convencionais. Muito menos seus clichês.

E ali perto de uma meia noite azul, na qual a lua crescia, amarela e fria, jantaram juntos, em uma de suas muitas primeiras vezes.

Ela usava um vestido cinza colado ao corpo, acentuando cada curva que tinha. Ele estava apenas de calça jeans e camiseta, mas usava sua melhor cueca. Não esperava nada com isso, é claro, muito menos que o cardápio da noite roubaria seu coração.

Sentaram-se um ao lado do outro. Sem mais distâncias, apenas joguinhos. Conversavam e riam como se nunca o tivessem feito. A garrafa de vinho no meio da mesa refletia cada movimento, extremamente calculado, que faziam. Pegava a taça como se sua mão deslizasse pelo rosto dela. Tentava esconder, mas não o suficiente. Trocavam sorrisos. Seus olhos não escondiam mais nada.

Ela colocou a mão em sua perna e disse alguma coisa sobre a primeira vez em que se viram. Ele escutou e respondeu, mas cada palavra parecia um convite para que se afogassem nas emoções um do outro. Exatamente como o convite até à sala, que ele faria logo depois.

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Sentou-o lentamente na poltrona, silenciando com os olhos cada palavra que pudesse vir a existir ou a classificar aquele momento. Só ousou abrir a boca para receber seus beijos, guardados desde sempre. Ela estava apoiada sobre ele, com o joelho estrategicamente colocado, puxando-o pela gola, como se fosse seu. Como se nunca tivesse sido de alguém. A partir daquele momento, nunca fora.

Então ela abriu suas pernas e sugou sua alma,

BANG!


publicado em 25 de Setembro de 2012, 10:00
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Uiatan Nogueira

Estudante de Engenharia Civil que não trabalha e tem que dar umas aulinhas particulares para sair nos fins de semana. Dizem que se demorasse mais dois minutos a nascer seria fêmea. Acreditou quando sua mãe disse que era bonito. Tenta fazer um blog e está no Facebook.


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