20 (e nove) clássicos do cinema moderno para se tornar um cineasta fodão

Dos preto e branco do século XX já estamos cansados de saber. O que tem de clássico no cinema dos anos 2000?

Toda grande cidade tem aquele cantinho: a porta num imóvel de esquina que dá acesso a um cinema aconchegante, de arquitetura desenhada pra ser alimento pros olhos e discretos letreiros e cartazes com os lançamentos da semana.

Abrigados pelo centro da cidade e rodeados de gente de todos os tipos, estes cinemas não são como os de áudio-estéreo-multi-theater-poltronas-reclináveis do Shopping Iguatemi. Não. As suas pequenas salas são bem escuras, e nelas você pode deixar tudo o que é sensorial aflorar: o cheiro da pipoca sem manteiga cancerígena, os sussurros dos amigos que conversam animadamente sobre seus diretores preferidos, o momento antes do qual todo mundo explode em risadas, ou a mocinha fungando o choro na cadeira de trás.

É gostoso ir sozinha a estes lugares. Neles a gente descobre os grandes diretores, em sessões especiais que reprisam clássicos de Federico Fellini, François Truffaut, Jean-Luc Godard, Alfred Hitchcock, Francis Coppola. É entender a produção cinematográfica do século XX, saborear o que era arte e o quão espelho era de nossos antepassados.

A segunda geração de grandes cineastas nos é contemporânea: Stanley Kubrik, Martin Scorsese, Steven Spielberg, Roman Polanski, Woody Allen. Do fim dos anos 80 e 90 até hoje, seus filmes são anunciados pela crítica como cinema artístico, autoral.

Mas em quem você pensa quando trazemos a noção de clássico pras produções dos anos 2000 pra cá? Dá pra pensar em cinema clássico mainstream? Quais filmes do nosso milênio são suficientemente representativos de nós?

Dias atrás recebi esta lista, que cumpre o propósito. Ao longo da leitura, algumas escolhas me incomodaram e senti que faltavam alguns filmes imprescindíveis. Enxerida que sou, botei as mãos na lista, de forma que ela está reproduzida aqui na íntegra – com quatro subversões ao longo do texto e cinco adições ao final dele.

Vem ler e dizer o que achou. Que outros filmes precisam entrar nessa lista?

1. Donnie Darko (2001)

Donnie é um jovem brilhante e excêntrico, que cursa o colegial mas despreza a grande maioria dos seus colegas de escola. Ele tem visões, em especial de um coelho monstruoso o qual apenas ele consegue ver, que o encorajam a realizar brincadeiras destrutivas e humilhantes com quem o cerca. Até que um dia uma de suas visões o atrai para fora de casa e lhe diz que o mundo acabará dentro de um mês.

O maior clássico dos cults-alternativões-herança-do-grunge-filme-de-gente-estranha é o topo desta lista e também o filme que deslanchou Jake Gyllenhaal.

Confesso que preciso assistir.

2. Tiros em Columbine (2002)

Michael Moore investiga, neste documentário ganhador do Oscar, a fascinação dos americanos pelas armas de fogo. Questiona a origem dessa cultura bélica e busca respostas visitando pequenas cidades dos Estados Unidos, onde a maior parte dos moradores guarda uma arma em casa. Entre essas cidades está Littleton, no Colorado, onde fica o colégio Columbine. Lá os adolescentes Dylan Klebold e Eric Harris pegaram as armas dos pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitório.

Uma das questões mais pungentes dos estados contemporâneos, que vem desafiando contradições em meio a um movimento coletivo de progresso pelas liberdades individuais. Bastante atual e representativo.

3. Cidade de Deus (2002)

Fernando Meirelles está na lista original do Independent com mérito certo. 

Buscapé é um jovem pobre, negro e muito sensível, que cresce em um universo de muita violência. Ele vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a possibilidade de se tornar um bandido, acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão. É através de seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o dia-a-dia da favela onde vive, onde a violência aparenta ser infinita.

Do mesmo diretor o clássico Ensaio sobre a cegueira, baseado no liro homônimo de José Saramago, também vale a pena.

4. Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004)

Joel e Clementine formavam um casal que durante anos tentaram fazer com que o relacionamento desse certo. Desiludida com o fracasso, Clementine decide esquecer Joel para sempre e, para tanto, aceita se submeter a um tratamento experimental, que retira de sua memória os momentos vividos com ele. Após saber de sua atitude Joel entra em depressão, frustrado por ainda estar apaixonado por alguém que quer esquecê-lo. Decidido a superar a questão, Joel também se submete ao tratamento experimental. Porém ele acaba desistindo de tentar esquecê-la e começa a encaixar Clementine em momentos de sua memória os quais ela não participa.

5. Super Size Me (2004)

O diretor Morgan Spurlock decide ser a cobaia de uma experiência: se alimentar apenas em restaurantes da rede McDonald's, realizando neles três refeições ao dia durante um mês. Durante a realização da experiência o diretor fala sobre a cultura do fast food nos Estados Unidos, além de mostrar em si mesmo os efeitos físicos e mentais que os alimentos deste tipo de restaurante provocam.

5. Super Size Me (2004)
5. Fed Up (2014)

Cada vez mais os estadunidenses, sobretudo as crianças, adoecem pela má alimentação. A preocupação com o corpo e a aparência é colocada em questão e relacionada aos níveis tão altos de obesidade infantil do país. A cineasta Stephanie Soechtig e a jornalista Katie Couric mostram como as crianças podem chegar a ter vidas mais curtas do que a dos pais, denunciam o lobby da indústria do açúcar e põe em xeque algumas crenças.

Sabe, não é que Super Size Me não seja bom, é que Fed Up vai muito além.

6. Onde os fracos não têm vez (2007)

Texas, década de 80. Um traficante de drogas é encontrado no deserto por um caçador pouco esperto, Llewelyn Moss, que pega uma valise cheia de dinheiro mesmo sabendo que em breve alguém irá procurá-lo devido a isso. Logo Anton Chigurh, um assassino psicótico sem senso de humor e piedade, é enviado em seu encalço. Porém para alcançar Moss ele precisará passar pelo xerife local, Ed Tom Bell.

Os irmãos Coen produziram um filme que levou quatro Oscars.

7. Ratatouille (2007)

Remy é um rato que sonha se tornar um grande chef, só que sua família é contra a ideia, além do fato de que, por ser um rato, ele sempre é expulso das cozinhas que visita.

Um dia, nos esgotos, fica bem embaixo do famoso restaurante de seu herói culinário, Auguste Gusteau. Decide visitar a cozinha do lugar e lá conhece Linguini, um atrapalhado ajudante que não sabe cozinhar e precisa manter o emprego a qualquer custo. Remy e Linguini realizam uma parceria: o rato fica escondido sob o chapéu do cozinheiro e indica o que ele deve fazer.

Arrisco dizer que é a melhor animação das últimas duas décadas. Além de fofo, o filme é todo construído em camadas narrativas que permitem que gente de todas as idades veja nele algum sentido. Uma obra de arte da animação.

8. Sangue Negro (2007)

Virada do século XIX para o século XX, na fronteira da Califórnia. Daniel Plainview é um mineiro de minas de prata derrotado, que divide seu tempo com a tarefa de ser pai solteiro. Um dia ele descobre a existência de uma pequena cidade no oeste onde um mar de petróleo está transbordando do solo, e Daniel decide partir para o local com seu filho, H.W. O nome da cidade é Little Boston, sendo a única diversão do local é a igreja do carismático pastor Eli Sunday. Daniel e H.W. se arriscam e logo encontram um poço de petróleo, que lhes traz riqueza mas também uma série de conflitos.

O papel principal rendeu a Daniel Day-Lewis o Oscar de melhor ator no ano.

9. Zodíaco (2007)

1º de agosto de 1969. Três cartas diferentes chegam aos jornais San Francisco Chronicle, San Francisco Examiner e Vallejo Times-Herald, enviadas pelo mesmo remetente. A carta enviada ao Chronicle trazia a confissão de um assassino e as três juntas formavam um código que supostamente revelaria a identidade do criminoso. O assassino exigia que as cartas fossem publicadas, caso contrário mais pessoas morreriam. Um casal de Salinas consegue decodificar a mensagem, mas é Robert Graysmit, um tímido cartunista, quem descobre sua intenção oculta: uma referência ao filme Zaroff, o Caçador de Vidas. Os assassinatos e as cartas se sucedem, provocando pânico na população de San Francisco.

Seu diretor, David Fincher, carrega nas costas outros filmes boníssimos: Garota ExemplarOs homens que não amavam as mulheres, A rede social, O quarto do pânico, O curioso caso de Benjamin Button, Clube da Luta e outros...

9. Zodíaco (2007)
9. O Orfanato (2007)

... Mas não diria que Zodíaco é o melhor deles. E essa história de conspiração, sei não, maior picaretagem. Por isso, subverti. E minha indicação é este aqui.

Laura passou os anos mais felizes de sua vida em um orfanato, onde recebeu os cuidados de uma equipe e de outros companheiros órfãos, a quem considerava como se fossem seus irmãos e irmãs verdadeiros. Agora, 30 anos depois, ela retornou ao local com seu marido Carlos e seu filho Simón, de 7 anos. Deseja restaurar e reabrir o orfanato, que está abandonado há vários anos. O local logo desperta a imaginação de Simón, que passa a criar contos fantásticos. Entretanto, à medida que os contos ficam mais estranhos, Laura começa a desconfiar que há algo à espreita na casa.

Eu não posso nem começar a falar de Guillermo del Toro que não paro mais. Simplesmente o melhor cineasta de suspense e terror da contemporaneidade, sem discussão. Neste, ele é produtor, assim como em Os olhos de Júlia, mas dirigiu outros como O labirinto do Fauno. Guillermo faz de um estilo que tem tudo pra ser tosqueira, o terror, uma fonte de bons filmes.

Pra não dizer dos filmes com sotaque espanhol que gelam a espinha.

10. O Equilibrista (2008)

7 de agosto de 1974. Philippe Petit se equilibra, de forma ilegal, em uma corda bamba estendida entre as Torres Gêmeas, em Nova York. Na época estes eram os prédios mais altos do mundo, sendo que após uma hora no local ele foi levado para um exame psicológico e, posteriormente, preso. Para realizar o feito, Petit levou 8 meses planejando-o com amigos, buscando um meio de enganar a segurança do World Trade Center para que pudesse entrar no prédio com a corda de aço e equipamentos.

10. O Equilibrista (2008)
10. Hot Girls Wanted (2015)

Aquele documentário levou o Oscar, mas estou subvertendo porque cruzar as Torres Gêmeas numa corda bamba, né, desnecessário.

Hot Girls Wanted foi uma das primeiras produções originais da Netflix a ganharem destaque. Mais do que merecido. O documentário registra a breve e cruel carreira das atrizes pornô da maior indústria do gênero do mundo, a estadunidense.

O filme imprime uma crítica contra as ilusões e falsas promessas feitas pelas produtoras, que atraem meninas menores de 21 anos para uma carreira breve, de dois ou três anos, que inclui trabalhos cada vez mais violentos e marca suas vidas de forma definitiva.

Não estamos falando de Sasha Gray e James Deen, que ganham rios de dinheiro e fazem os filmes que querem, mas da massa que trabalha no pornô.

11. WALL-E (2008)

Após entulhar a Terra de lixo e poluir a atmosfera com gases tóxicos, a humanidade deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave. O plano era que o retiro durasse alguns poucos anos, com robôs sendo deixados para limpar o planeta. Wall-E é o último destes robôs, que se mantém em funcionamento graças ao autoconserto de suas peças. Sua vida consiste em compactar o lixo existente no planeta, que forma torres maiores que arranha-céus, e colecionar objetos curiosos que encontra ao realizar seu trabalho. Até que um dia surge repentinamente uma nave, que traz um novo e moderno robô: Eva. A princípio curioso, Wall-E logo se apaixona pela recém-chegada.

São tantas as questões trazidas à tona por Wall-E e tantas as reflexões que ele propõe sobre o mundo contemporâneo que não podia ficar de fora da lista.

12. Bastardos Inglórios (2009)

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é matar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível.

Paralelamente, Shosanna Dreyfuss assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa, o que faz com que fuja para Paris. Lá ela se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja um meio de se vingar.

De Tarantino também vale a pena assistir Django Livre e os clássicos antigos como Kill Bill e Pulp Fiction.

13. A Origem (2010)

Christopher Nolan não falha em ajudar proto-acadêmicos a pensar semiótica e o conceito de hipertexto. Parece até talento nato que ele demonstrou também em Amnésia e mais recentemente em Interestelar, mas este filme é o expoente da coisa.

Em um mundo onde é possível entrar na mente humana, Cobb está entre os melhores na arte de roubar segredos valiosos do inconsciente, durante o estado de sono. Além disto ele é um fugitivo, pois está impedido de retornar aos Estados Unidos devido à morte de Mal. Desesperado para rever seus filhos, Cobb aceita a ousada missão proposta por Saito, um empresário japonês: entrar na mente de Richard Fischer, o herdeiro de um império econômico, e plantar a ideia de desmembrá-lo. Para realizar este feito ele conta com a ajuda do parceiro Arthur, a inexperiente arquiteta de sonhos Ariadne e Eames, que consegue se disfarçar de forma precisa no mundo dos sonhos.

14. Missão madrinha de casamento (2011)

Lillian vai se casar e convida a amiga Annie para ser sua madrinha. Ela, que enfrenta problemas profissionais e amorosos, resolve se dedicar à função de corpo e alma. Só que, logo no primeiro evento organizado, Annie conhece Helen, uma bela e rica mulher que quer ser a nova melhor amiga de Lillian. As duas logo passam a disputar a proximidade da amiga, assim como o posto de organizadora do casamento e demais eventos pré-nupciais.

Jason Guerrasio, o autor da lista no Independent, diz que o filme demonstra como elas podem ser tão engraçadas quanto os homens...

14. Missão madrinha de casamento (2011)
14. Ele não está tão a fim de você (2009)

... Mas sei não se isso é justificativa suficiente, hein. Subverti porque prefiro radicalizar com essa ideia de amor romântico feminino de uma vez, chutar o pau da barraca e falar umas verdades. Porque às vezes ele realmente não está a fim de você, e vida que segue, e por favor façamos mais filmes reais e divertidos assim.

Gigi é uma romântica incurável, que um dia resolve sair com Conor. Ela espera que ele ligue no dia seguinte, o que não acontece. Gigi resolve ir até o bar onde se conheceram, na esperança de reencontrá-lo. Lá ela conhece Alex, amigo de Conor. Ele tem uma visão bastante realista sobre os relacionamentos amorosos e tenta apresentá-la a Gigi, através de seu ponto de vista. Por sua vez Conor é apaixonado por Anna, uma cantora que o trata apenas como amigo e que se interessa por Ben, casado com Janine. O casamento deles está em crise, o que não impede que Janine dê conselhos amorosos a Gigi, com quem trabalha. Outra colega de serviço é Beth, que namora Neil há 7 anos e sonha em um dia se casar, apesar dele ser contrário à ideia.

15. Drive (2011)

Durante o dia um motorista trabalha como mecânico e dublê em filmes de Hollywood, enquanto que à noite ele presta serviços para a máfia. Ele é vizinho de Irene, que é casada e tem um filho com Standard. Percebendo a situação difícil de Standard, que saiu há pouco tempo da prisão, o motorista o convida para realizar um assalto. Só que o golpe dá errado, o que coloca em risco as vidas do motorista, Irene e seu filho.

16. Interrompendo a violência (2011)

Interrompendo a Violência conta a comovente e histórias surpreendentes de três homens que tentam proteger suas comunidades de Chicago da violência que já empregaram. Do aclamado diretor Steve James e autor Alex Kotlowitz, este filme é uma viagem excepcionalmente íntima para a persistência da violência em nossas cidades.

Filmada ao longo de um ano, o filme captura o período em que Chicago se tornou um símbolo nacional da violência, durante o qual a cidade foi sitiada por incidentes horríveis, mais notavelmente o espancamento brutal de Derrion Albert, um estudante de Chicago da High School, cuja morte foi gravada.

17. O ato de matar (2012)

Na Indonésia, são considerados como heróis os homens que comandaram o genocídio de milhões de pessoas no passado. Sem remorso nenhum sobre suas ações, eles foram convidados a reencenarem seus assassinatos para as câmeras, com os novos habitantes do vilarejo onde moram.

Um dos mais reconhecidos documentaristas da contemporaneidade, Joshua Oppenheimer, teve o sangue frio de fazer amizade com estes homens e convencê-los a contar sua história para as câmeras.

18. O mestre (2012)

Ao término da Segunda Guerra Mundial, o marinheiro Freddie Quell tenta reconstruir sua vida. Traumatizado pelas experiências em combate, ele sofre com ataques de ansiedade e violência, e não consegue controlar seus impulsos sexuais. Um dia, ao acaso, ele conhece Lancaster Dodd, uma figura carismática e líder de uma organização religiosa conhecida como A Causa. Reticente no início, ele se envolve cada vez mais com este homem e com suas ideias, centradas na ideia de vidas passadas, cura espiritual e controle de si mesmo. Freddie torna-se cada vez mais dependente deste estilo de vida e das ideias de seu Mestre, a ponto de não conseguir mais se dissociar do grupo.

19. Upstream Color (2013)

Um homem e uma mulher aproximam-se, devido ao ciclo de vida de um organismo. Suas próprias identidades são questionadas, enquanto eles tentam retomar uma vida normal.

Nenhuma descrição deste filme fala muito sobre sua história e eu ainda preciso vê-lo pra descobrir o porquê de estar nesta lista.

20. Boyhood (2014)

Uma narrativa sensível sobre Mason, um garoto comum, filho de pais divorciados comuns, e suas experiências na vida dos seis aos dezoito anos.

Parece banal, mas o filme é a obra-prima do diretor Richard Linklater: foi filmado ao longo de doze anos e capta o envelhecimento natural dos atores e a experiência de direção.

Sem grandes reviravoltas ou clímax, o longa pode aborrecer aos mais impacientes, mas encanta pela sensibilidade. Um belo retrato da vida comum, com diálogos geniais.

De Richard Linklater também vale muito a pena assistir a trilogia de Antes do Amanhecer.

21. Spotlight (2015)

Baseado em uma história real, o drama mostra um grupo de jornalistas em Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças, causados por padres católicos. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelo caso.

O filme é um perfeito retrato da importância e trabalho bem-feito do jornalismo investigativo. Essencial que tenha sido feito neste momento de crise da mídia, quando alguns formatos estão morrendo e outros estão ganhando força. Mesmo praqueles que não são da área, a reflexão sobre a informação e os meios de obtê-la é absurdamente válida.

22. Whiplash (2014)

O solitário Andrew é um jovem baterista que sonha em ser o melhor de sua geração e marcar seu nome na música americana como fez Buddy Rich, seu maior ídolo na bateria. Após chamar a atenção do reverenciado e impiedoso mestre do jazz Terence Fletcher, Andrew entra para a orquestra principal do conservatório de Shaffer, a melhor escola de música dos Estados Unidos. Entretanto, a convivência com o abusivo maestro fará Andrew transformar seu sonho em obsessão, fazendo de tudo para chegar a um novo nível como músico, mesmo que isso coloque em risco seus relacionamentos e sua saúde física e mental.

Um filme sobre a falácia de 'dar tudo o que temos', uma verdade tão eloquente na nossa realidade meritocrática e tantas vezes ilógica que dizê-la pode ofender muita gente.

23. Beleza Americana (1999)

Esse filme não está nas obras dos anos 2000, mas não poderia ficar de fora de jeito nenhum. Talvez seja o melhor de toda esta lista, na verdade.

Diria que é o equivalente cinematográfico à música Ouro de Tolo, de Raul Seixas. Lester Burham é um cidadão de bem americano, mas será que deveria estar contente porque tem um emprego, é um dito cidadão respeitável e ganha quatro mil cruzeiros por mês? 

Ele não aguenta mais o emprego e se sente impotente perante sua vida. Casado com Carolyn e pai da aborrecente Jane, o melhor momento de seu dia quando se masturba no chuveiro. Até que conhece Angela Hayes, amiga de Jane. Encantado com sua beleza e disposto a dar a volta por cima, Lester pede demissão e começa a reconstruir sua vida, com a ajuda de seu vizinho, Ricky.

O longa joga na nossa cara a ilusão que é nossa vida, a falácia que é nossa organização social e a mediocridade que são nossos tolos sonhos de classe média. É um filme extremamente melancólico sobre a mentira e a vida.

24. Relatos Selvagens (2014)

Esquetes da vulnerabilidade humana: uma traição amorosa, o retorno do passado, uma tragédia ou mesmo a violência de um pequeno detalhe cotidiano são capazes de empurrar estes personagens para um lugar fora de controle.

Uma das melhores, mais críticas e ácidas comédias dos últimos anos. Dá pra chorar de rir e se ver em cada cena, aceitando a possibilidade de que um dia podemos estar nas mesmas situações.

25. Quem quer ser um milionário? (2008)

Jamal K. Malik é um jovem que trabalha servindo chá em uma empresa de telemarketing. Sua infância foi difícil - teve que fugir da miséria e violência para conseguir chegar ao emprego atual. Um dia, ele se inscreve no popular programa de TV "Quem Quer Ser um Milionário?". Inicialmente desacreditado, encontra em fatos de sua vida as respostas das perguntas feitas.

Um clássico intercultural, não há palavras que expliquem muito bem o porquê da excelência do filme. A atuação de Dev, o roteiro bem amarrado e a capacidade tão marcante da direção de nos inserir na realidade indiana são surpreendentes.

 

publicado em 06 de Agosto de 2016, 10:30
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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