Brasileiro Anônimo: vai votar no lixo de novo, cara pálida?

Nota do Editor: Em 14/08/2012 perguntamos o que cada um já fez para chacoalhar a estrutura política de sua cidade. Agora encontramos alguém - ou melhor, um movimento - que levantou a bunda do sofá e efetivamente fez algo.

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Toda conversa sempre terminava com algum tipo de descontentamento.

Com a vida, com as condições de saúde, com a publicidade, com os valores, com o sistema educacional, com o jornalismo, com a música e, certamente, com a nossa postura: pseudo-intelectuais que filosofavam maravilhas e nunca, nunca faziam absolutamente nada. No máximo, um ou dois parágrafos criticando alguma matéria em uma timeline qualquer.

Estávamos inseridos no que mais criticávamos: a inércia conformista.

Proveniente de diferentes perspectivas, diferentes pessoas, com diferentes religiões, visões políticas, profissões e gostos musicais, o movimento – que ganhou o nome de "Brasileiro Anônimo" – foi, na verdade, o resultado gerado pela soma de todas as diferentes insatisfações que rondavam os nossos papos.

Resolvemos nos encontrar para conversar sobre isso e, com o tempo, começamos a trocar material que foi dando nome, tom e forma para o que queríamos criar. O movimento anônimo surgiu assim, de forma espontânea e até hoje não está fechado. Preferimos que continue assim, inacabado, sempre aumentando, mutando. A ideia é começar a conectar as pessoas, com debate, com essência, com motivo.

Inicialmente, pensamos em uma ação de conscientização que provocasse impactos com a chance que temos de desempatar nossas vidas a cada dois anos. Temos apenas quarenta segundos, alguns números que precisamos decorar e algumas coisas que precisamos saber. Temos de fazer a escolha certa.

Para isso, disponibilizamos para download o toy arte da urna de eleição. Sugerimos aplicar a intervenção em todo e qualquer lixo do país, tendo em vista que no 'visor' desta urninha, registra-se o seguinte apelo:

"Desta vez, vote no Brasil e não no lixo"
e
"O voto é anônimo, mas o problema é público"

A mecânica da ação foi bem simples. Em uma madrugada, produzimos cerca de 100 urnas e nos dividimos em alguns carros. Com roteiros em mãos, nos deslocamos em duplas para fotografar e filmar a colocação das urnas pela cidade de São Paulo.

Feito isso, lançamos a campanha on-line e disponibilizamos o material em nossa fanpage para que outros pudessem replicar e levantar a discussão na sua própria região.

Deu resultado?

Em poucos dias, tivemos o contato de inúmeros jornais e de pessoas que se interessaram e queriam saber mais sobre a ação. Em momento algum sentimos a necessidade de nos identificarmos, inclusive em reportagens para a televisão. Apesar de romântico, foi bem estranho gravar de costas por uma ideologia que nem era tão assistida assim.

Os veículos potencializaram o alcance da ação que, em sua proporção, conseguiu viralizar e atingir diferentes grupos em inúmeros cantos do país. Em questão de dias, recebemos fotos de urnas colocadas em Brasília, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Tocantins, Bauru e outros inúmeros cenários brasileiros. Recebemos material até do Canadá e dos Estados Unidos.

É gratificante ver que existem outras pessoas que topam sair da inércia e fazer parte deste movimento. Que topam não se reduzir a um like, share ou view.

Esta aqui foi para um lugar bem estratégico

Também foi interessante lidar com as mais diferentes colocações que recebemos por e-mail e discutir política entre os anônimos que começaram isso tudo. Pessoas formadas, grandes publicitários, professores, jornalistas, recém-formados e similares que, no fim das contas, evitavam o assunto por falta de informação.

Para essas pessoas, fizemos posts informativos, explicitando as responsabilidades de cada cargo político, por exemplo.

Foi uma boa experiência, que fez nascer uma espécie de movimento anônimo. Esperamos sustentar muitas outras causas. Esperamos usar a dinâmica de monitoramento que criamos, usando o facebook. Pretendemos adaptar tudo isso para coisas que sejam mais úteis e inteligentes para todos.

Esperamos que todos os impactados reflitam sobre o nosso sistema político. Queremos trazer isso para a nossa pauta diária. Levar essa discussão para a mesa do bar, do restaurante e, por que não, para as timelines.


publicado em 26 de Setembro de 2012, 14:13
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Brasileiro Anônimo

Para o movimento, não importa quem está a frente, e sim a informação e os ideais que a iniciativa traz. O anônimo idealizador que produziu este texto preferiu não se identificar, sendo condizente com a proposta do movimento que compõe. Visite o site e a fanpage.


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