Antes de ler o texto e assistir o vídeo, acredito que alguns de vocês já têm esta resposta na ponta língua:
“É sim! Se preocupar tanto com padrões de beleza, quando se tem tanta coisa mais importante na frente é uma tremenda bobagem!”
Já ouvi a resposta acima inúmeras vezes. Nunca em nossas vidas sofremos e fizemos tantos julgamentos rasos e simplórios como os de hoje em dia, na ânsia de sermos os primeiros a concluir, denunciar ou expor, acabamos nos precipitando e tirando conclusões rasas e sem reflexões.
Você já se perguntou qual o motivo e a conseqüência de achar algo bonito ou feio?
A Estética pode ser estudada por meio de inúmeras visões. Irei me ater à sua raiz, pois é nela que reside o que tem de mais especial e significativo.
Aisthesis
A palavra que deu origem à “estética”. Significa “compreensão pelos sentidos”.
Pois bem, saiba que a beleza é provida e muito, de razão. Entenda que não quero aqui “desmistificar” nenhum sentimento, achar algo bonito ou feio será sempre uma descoberta surpreendente, que tem como primeiro sintoma o encantamento ou a repulsa, ambos sentimentos necessários a uma vida intensa e pungente.
Existem 2 fatores principais que nos ajudam a definir se alguém é bonito ou feio: o fator social e o fator físico.
No vídeo abaixo, falarei mais sobre os fatores sociais, mas, para que não soe incompleto, darei uma pequena amostra do que julgo ser um fator físico.
O Fator Físico
Quando você olha uma mulher com quadris levemente mais largos que o convencional, a primeira percepção é de achar atraente o que está vendo. Sabe por quê?
Seu instinto, talhado por milhares de anos de seleção natural, diz que um quadril largo facilita o nascimento de um bebê, ao contrario de um quadril estreito. Seios Fartos e empinados (não necessariamente grandes) lhe mostram que a mulher goza de sua mais saudável forma para procriar, o que é uma qualidade altamente desejável na natureza.
Já um Homem de maxilar proeminente e largo, demonstra à mulher vigor para se alimentar, seja de uma presa viva, seja para comer alimentos mais duros e difíceis de serem mastigados. O que a princípio nos parece absurdo, afinal, já não dependemos só de nossas ancas para termos filhos ou da potência de nossos maxilares para conseguirmos nos alimentar com qualidade, pode ser evidenciado e confirmado se checarmos alguns padrões de beleza clássicos do ser humano (não confunda com padrões de beleza de moda), pense em todos os galãs que você conhece, quantos deles tem pouco queixo? Quase nenhum.
Ou pense quantas mulheres de quadris estreitos nós preferimos em detrimento as de quadril largo? Ficou mais difícil ainda, não é mesmo?
Não se assuste, afinal, ainda somos animais e desprezar este tipo de informação seria, no mínimo, burrice.
Peço que, por favor, também não se prendam às exceções, um homem extremamente queixudo ou uma mulher com o quadril extremamente grande não exercerão a mesma atração que os exemplos citados acima, sabe por quê?
Sua constituição, embora tenha características desejadas exacerbou a equação da harmonia, ou seja, tornou aquela característica algo fora dos padrões desejáveis e saudáveis. Ao sair muito da curva, estas características que antes eram vantajosas tendem a se serem vistas como defeitos, pois descaracterizam demais o padrão considerado ideal e saudável de um ser vivo.
Veja que a harmonia tem uma relação muito estreita com a saúde, não só na esfera social, como também na física. Este é um dos motivos principais de associarmos a harmonia à beleza na estética.
Antes que os desprovidos de queixo ou de quadril se ponham a esbravejar, é hora de lembrarmos que o fator físico não é o único a ser levado em conta. o fator social é tão ou mais importante que ele.
O Fator Social
Esse é constituído por todas as experiências que vivemos ao longo da vida e também pela cultura que nosso ambiente nos insere, e é ele o responsável por as vezes subvertermos esta lógica e gostarmos de um biótipo diferente do que a natureza considera como ideal.
Um ótimo exemplo de fator social é a gravata. Hoje, a gravata não tem nenhum papel ergonômico que a justifique, seu uso é estritamente ligado a sensação social que ela produz.
Este tipo de sensação está completamente relacionada ao meio em que vivemos. Ao utilizar uma gravata, estamos portando um símbolo que levará informações às pessoas que sabem ler essas informações.
Link Vimeo | Bruno Passos e a estética
Porém, se utilizarmos a gravata na frente de um índio (não é preconceito, vamos supor que seja um índio mais selvagem, com menos contato), seu efeito social seria nulo, pois ele não saberia ler o que este símbolo está dizendo, ou seja, a função social da roupa está totalmente ligada ao meio em que é aplicada.
Este é o motivo de a mesma roupa ficar bem em uma pessoa e em outra não. Sua profissão, ideais e cultura irão fazer uma enorme diferença no modo com que suas roupas e, por consequência, a própria pessoa, são percebidas.
Ouço muita gente falando mal de quem dá atenção à “moda”. Muitas delas são meus amigos, executivos, que passam o dia inteiro de gravata.
Veja então que paradoxo: ao criticarem tanto o sistema e a “ditadura” imposta pela moda, eles me dizem que não irão se aprofundar nesses conhecimentos por ser algo fútil e que pouco trará de benefício. Pois bem, me diga se existe maior futilidade do que utilizar um pedaço de tecido amarrado no pescoço só para dizer que você é de uma casta social privilegiada?
Creio que não.
Portanto, não se engane. Quanto mais você conhecer os mecanismos de leitura cultural e física (como a moda e a estética) que estão a sua disposição, maior e mais claro será o poder de alcance do seu discurso para o mundo.
Não se deve julgar as pessoas pelas ferramentas que utilizam, mas sim pela maneira com que o fazem.
Obs: em breve darei meu primeiro workshop no PapodeHomem, sobre como se vestir de maneira bacana e inteligente. Aguardem!
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