Alunos da USP são agredidos pela polícia. É esta a prioridade da PM?

Na quinta, 27 de outubro, três estudantes foram abordados por policiais da Rocam – Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas – na USP. Os alunos portavam maconha. Os policiais tentaram enquadrá-los e, quando isso aconteceu, outros estudantes foram em defesa dos colegas.

Com o tempo, foram chegando cada vez mais estudantes e policiais, e algo que começou pequeno tomou proporções maiores e a porrada comeu solta na universidade. Conversei com uma das pessoas que apanharam da polícia – e que pediu para que a sua identidade fosse preservada. Vou contar aqui o outro lado da moeda, o que não aparece na TV.

Link YouTube | Policiais da Rocam na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

O que os estudantes querem é o fim do convênio entre a USP e a PM, assinado no último dia 8 de setembro. Ele permite que os policiais entrem na universidade e "façam a segurança" mesmo a USP estando fora dos limites de sua atuação. Portanto, os estudantes ocuparam o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Os setores mais conservadores desqualificam toda e qualquer expressão por parte desses futuros intelectuais. Dizem que isso é coisa de maconheiro da FFLCH que quer ficar o dia inteiro lá fumando sem ninguém pra encher o saco. Que é coisa de sindicalista, petista, mimimi. Falam de lei, dão todo apoio à ação da polícia, e esse Reinaldo Azevedo ainda tem a pachorra de chamar isso de democracia.

O que não falam é que todo policial deve andar identificado, justamente para que se possa reportar abusos. E lá eles não estavam, com a justificativa de "medida administrativa". Não falam que o dever da polícia é pŕoteger a sociedade e não ficar de picuinha com estudante e professor universitário. Vamos lembrar que temos muitas outras prioridades neste País, com tanto governante desrespeitando leis, com aumentos de salário por decreto ou com corrupção passiva e saindo impunes.

Se a polícia quiser tanto bater em alguém, poderia não ser nos estudantes, não?

"Legião de idealistas / Feijó e Tobias / Legaram-na aos seus / Tornando-os vigias / Da Lei e Paulistas / Por mercê de Deus" (Foto: Luiza Sigulem/Folhapress)

Duvido que a maconha faça tanto mal quanto o gás lacrimogênio ou o cacetete. Principalmente num lugar que deveria incentivar o livre pensamento, quebrar tabus e apoiar a revisão de valores da sociedade. (Mas que, ao que vemos, é um lugar que abre as portas para que a mão pesada do Estado desça o sarrafo no futuro do nosso País.)

Não acredito que o porte de maconha seja pior do que um polícial abaixar o volume do rádio quando se ouve um pedido de reforços em um crime na zona norte. Neste crime sim eles deveriam estar, onde realmente precisamos que eles estejam.

Por fim, não concordo que seja pior do que viver em uma sociedade intolerante, que não enxerga onde está o real problema. Que justifica atitudes covardes com moralismo. Que justifica sua falta de mente aberta para questionar e rever posições com discursos vazios.

Fica no ar uma pergunta pra quem defende a atuação da polícia em situações assim: e se ela tivesse atitude semelhante quando você passou no farol vermelho ou estacionou em local proibido?

A quem tiver interesse, eis a cartilha sobre abordagem policial.


publicado em 29 de Outubro de 2011, 07:10
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Eduardo Pacheco

Paulista que sobrevive comendo mato e fazendo programa. Tem mais perguntas que respostas e acredita nas pessoas. Pensa que o mundo pode ser um lugar melhor. É um sonhador, gosta das coisas simples da vida e acha que a felicidade vem de graça e não tem preço.


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