A verdadeira crise europeia

Muito se fala sobre a crise na Europa, principalmente na Grécia. Mas o pior ainda está por vir e, ao contrario do que aconteceu com a Grécia, não haverá ninguem disposto a pagar a conta.

Quando o mundo começava a respirar, saindo da inundação causada pela crise americana, estourou a crise na Europa. Não se pode falar em surpresa, mas foi daqueles eventos que todos sabiam que estava chegando e ninguém queria encarar. Assim como anunciar a erupção da um vulcão logo após um terremoto.

A crise no velho continente teve como primeiro protagonista a Grécia, que estava vivendo o “sonho americano” em terras europeias, um oba-oba causado pela entrada na zona do Euro.

Protestos na Grécia.
Protestos na Grécia.

A falta de prudência grega deixou como herança um governo fraco e gigantescas dívidas. Embora o custo total para retirar a Grécia da crise deva sair por cerca de 150 bilhões de euros (após um desconto de 50% do total), ainda assim seria uma crise sem maiores dimensões. Algumas medidas de austeridade, como aumento de impostos sobre produtos, limitação de prestação e pagamentos a serviços públicos (como saúde e educação) e elevação da idade mínima da aposentadoria provavelmente serão suficientes para diminuir o custo-país e estabilizar a economia, mas ainda não será o bastante para acabar com a crise na zona do Euro, que possui outros países em situações adversas.

A Itália também vive uma crise econômica e politica, de tal maneira que se torna dificil saber quem está pior. O país tem uma das maiores dívidas do mundo (cerca de 1,9 trilhões de euros) e, até recentemente, um líder corrupto que controlava os meios de comunicação de massa. Ao contrario do que acontece com a Grécia, não há dinheiro que cubra o rombo italiano, e ainda se houvesse, ele não seria emprestado à Itália de Berlusconi.

O mercado demostrou descontentamento com Silvio Berlusconi após rumores de sua saída nos dias 7 e 8 de novembro, quando ele anunciou sua renúncia, mas sem precisar a data. Os rumores fizeram com que os ativos europeus (em especial os italianos) disparassem de preço, com alta nos índices DAX, CAC40 e FTSE300. O que deveria significar uma crise politica e desconfiança do mercado gerou esperança que, por pior que possa ser o substituto de Berlusconi, ainda assim seria seria melhor que ele.

É duro ser bonito e gostoso. Palmas pra mim!
É duro ser bonito e gostoso. Palmas pra mim!

Depois da Segunda Guerra, Berlusconi foi o primeiro-ministro que ficou mais tempo no cargo, tendo se envolvido em dezenas de escandalos públicos. Entre eles, afirmar que a primeira ministra alemã Angela Merkel é uma bunduda incomível, promover festas regadas a prostitutas, manter relações sexuais com uma bailarina marroquina menor de idade e chamar o proprio país de “país de merda”. Apesar disso, foi o desastre econômico que o derrubou.

Berlusconi afirmou que só sai quando aprovado um pacote de medidas econômicas que ele mesmo propôs. Mas, devido à pressão exercida pelo mercado e pelo parlamento italiano (onde perdeu a maioria dos votos), deve jogar a toalha antes das duas semanas que ele mesmo tinha planejado.

O resumo da ópera (de Berlusconi, não Puccini) é um país com uma divida gigantesca e, por enquanto, ninguém no comando. O futuro do euro vai depender de como os países-membros vão se portar diante desta montanha. E olha que ainda não estamos falando de Espanha, Portugal e Irlanda.


publicado em 22 de Novembro de 2011, 08:01
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Eric Romagna

Engenheiro que pensa saber um pouco de economia e de guitarra, embora não consiga fazer nenhuma das três coisas direito. Às vezes é surpreendido por sua própria cara de doido.


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