Um dia, em uma pequena ilha, os escravos se rebelaram contra os senhores, tomaram controle de suas vidas e o mundo nunca mais foi o mesmo. É impossível exagerar a influência da Revolução Haitiana nos rumos da História ocidental.

Battle of Vertières in 1803

O Haiti foi a segunda nação do hemisfério ocidental a se tornar independente.

A Revolução Haitiana não ser parte do currículo obrigatório de História é um absurdo. Ela foi um dos acontecimentos mais decisivos e marcantes da história mundial. Sem conhecer a Revolução Haitiana, não dá pra entender NADA sobre a História das Américas no século XIX.

Aliás, não dá pra entender nem mesmo a Revolução Francesa e as fraturas internas do projeto liberal-iluminista. Tudo o que se tentou e (mais importante) se deixou de tentar politicamente nas Américas foi em função da Revolução Haitiana.

Em cada discussão, em cada conversa, em cada debate no Plenário, no Chile e no Brasil, em Cuba e nos Estados Unidos, depois de muito hesitar, alguém sempre mencionava o grande bicho-papão:

“Mas… e o Haiti?”

Sem ler a literatura da época, fica difícil de quantificar o quanto a simples existência da revolução haitiana mudou tudo no curso da história política e econômica das Américas.

Durante as guerras de independência latino-americanas, e durante os posteriores debates abolicionistas, o Haiti era o grande bicho-papão:

Como fazer a independência sem haitizar o país? Como dar liberdade aos negros de modo que não saíssem queimando tudo e degolando os brancos? Na dúvida, melhor ser conservador, fazer a coisa aos poucos. É bom não facilitar com essa negrada bárbara.

A política brasileira do deixa-disso, do não fazer nada, do esperar pra ver, que fez com que fôssemos a última nação livre do Ocidente a abolir a escravidão, é consequência direta do medo que nossa elite tinha do Haiti.

toussaint l'ouverture

Toussaint de L’Ouverture, chefe da revolução, foi um daqueles grandes líderes que só aparecem de séculos em séculos. Derrotou os exércitos da Grã-Bretanha, Espanha e França – algumas vezes lutando juntos contra ele. Unificou e libertou seu país. Foi inteligente, sensato, conciliador, decisivo. E, como tantos grandes homens (penso em Viriato, outro grande líder esquecido), foi morto à traição, pois não conseguiam derrotá-lo no campo de batalha.

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Infelizmente, depois de sua morte, as coisas saíram do controle, houve massacres indiscriminados e destruição extensiva de propriedades – justamente os engenhos de açúcar que, por um lado, simbolizavam a escravidão mas, por outro, representavam a riqueza do Haiti.

O país mergulhou no caos e na pobreza e, hoje, duzentos anos depois, continua pobre e instável.

Mas livre.

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Os jacobinos negros

O melhor livro sobre o tema, disparado, ainda é o clássico Os Jacobinos Negros, de C. L. R. James.

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu