A fantástica fábrica de whisky

Oompa Loompa, do-ba-dee-doo. Saiba como foi conhecer a destilaria da Jameson na Irlanda e conheça alguns drinks para se fazer com whisky

No início de março, a Jameson nos convidou para conhecer as destilarias da marca em Middleton, na Irlanda.

São duas: uma antiga, que funcionou por 150 anos até ser fechada, em 1975, e hoje funciona como atração turística; e uma nova, operacional até os dias de hoje, que foi inaugurada justamente quando a outra foi desativada.


A nova destilaria

A experiência de andar entre as duas instalações é um pouco surreal.

Se a forma é diferente – as diferenças entre ferramentas antigas, rodas d’água e paredes envidraçadas de metal e vidro saltam aos olhos –, o conteúdo não: o líquido que é produzido ali é essencialmente o mesmo e quase não passou por transformações mesmo atravessando um século.


Rodamos bastante por lá e ouvi muito sobre os processos de criação dos whiskys irlandeses, mas admito que minha parte preferida da visita guiada foi a que entregou uma constatação meio besta.

Sabe o whisky que você bebe? Um dia ele já foi uma cerveja.

***

Nunca tinha me tocado, mas faz todo sentido: antes de serem destilados, os cereais que compõem o whisky são maltados, esmagados e fermentados, tal qual acontece em uma cervejaria. De acordo com os especialistas da marca, a principal diferença entre esse líquido e as cervejas que estamos acostumados a beber é a ausência de lúpulo (tentei descolar uma versão dessa bebida, mas não consegui. Dizem que não é exatamente gostosa).

A partir desse ponto é que o whisky começa a tomar forma.

Pelo método consagrado na terra dos leprechauns, essa “cerveja” é destilada por três vezes. Não é uma regra universal e cada marca possui seus métodos, é claro, mas essa decisão torna o whisky irlandês mais suave quando comparado àqueles que são destilados apenas uma vez (os bourbouns americanos, como Jack Daniel’s) ou duas (caso de boa parte dos whiskys escoceses).

No caso específico da Jameson, como a bebida que encontramos nas prateleiras é uma mescla de dois estilos diferentes – pot still e grain whisky –, a tridestilação é fundamental para garantir que o produto final seja fácil de beber. O pot still whisky é o equivalente irlandês ao single malt escocês, feito apenas com malte e cevada. Mais pesado e apimentado, geralmente é apreciado por bebedores mais experientes. O grain whisky, por sua vez, é feito de qualquer tipo de cereal – como milho, centeio ou trigo – e é mais leve e floral. A mistura dos dois, não por acaso, garante a versatilidade.


Os números envolvidos são assombrosos. Ao todo, 1 milhão e 200 mil barris de bebida estão espalhados pelos 45 galpões que armazenam a produção. A cada dia, esses galpões perdem o equivalente a 29 mil garrafas de whisky. E essa não é uma imensa falha de produtividade: o fenômeno, apelidado de a parte dos anjos, se deve à evaporação natural de 2% do álcool durante o processo de envelhecimento.

Provar os whiskys que servem de base para os blends da Jameson direto desses barris foi, inclusive, uma oportunidade e tanto. O teor alcoólico dessa etapa da produção (antes de serem misturados uns com os outros e diluídos em água) fica na casa dos 60%.



Outra oportunidade bem legal que o passeio ofereceu foi conhecer Ger Buckley, o mestre dos barris da Jameson. Quinta geração da família no negócio, Buckley não é só um tanoeiro habilidoso com o machado e um baita contador de histórias. É ele o responsável por selecionar, garantir a qualidade e consertar cada um dos barris de carvalho utilizados para o envelhecimento do whisky.

Geralmente compradas de outras destilarias e já com alguns anos de uso, a seleção das peças é fundamental para garantir os sabores e as diferenças entre cada um dos rótulos da empresa.

Jameson Original é envelhecido em barris que já acolheram bourbon e xerez. Os barris de bourbon entregam sabores como mel, baunilha e madeira doce, enquanto os de xerez dão especiarias, canela e frutas secas.
Jameson Black Barrel também usa os barris usados com bourbon e xerez. A diferença é que a parte interna do barril de bourbon usado aqui já foi carbonizado duas vezes, e não apenas uma. Com o contato com a madeira queimada, o whisky fica mais doce e com sabores mais complexos.
Jameson Gold reserve é o único whisky da marca que usa barris de carvalho virgens no processo de envelhecimento. Essa escolha dá um toque apimentado ao whisky e, como o percentual de pot still whisky é maior nessa garrafa, tem-se um whisky mais encorpado.
Fonte: Dave Mc Cabe, da  Irish Whiskey Academy.

Uma das coisas que foi possível perceber sendo claramente martelada em cada uma das falas que ouvi durante a visita é a preocupação em manter um certo frescor, longe da ideia de que whisky é algo intocável e que só deve ser bebido puro ou com algumas pedrinhas de gelo (e já era assim em 2011, quando o Rodrigo Cambiaghi esteve por lá).

O uso do Jameson Original para drinks refrescantes ou em coquetéis mais complexos, por exemplo, é largamente estimulado. Era mais fácil beber um Ginger and Lime do que encontrar whisky puro na maior parte do tempo.

Torci o nariz para essa ideia no começo, admito. Mas com o tempo – e a ajuda desse drink abaixo – Tipperary, o negroni irlandês – me convenci de que não é necessariamente um sacrilégio misturar whisky com outras coisas.


Sério, experimentem. 

O pulo do gato é usar ingredientes que ressaltam os sabores da bebida, ao invés de escondê-los (acho que foi por isso que o drink com ginger ale, uma espécie de refrigerante muito doce, não me pegou).

Pedi a Oisin Davies, barman que faz as vezes de embaixador da marca e foi o responsável por preparar o Tipperary, que compartilhasse algumas das receitas dele com o PdH. Podem ir sem medo.

***

All Irish Punch 

  • 1 garrafa de whisky irlandês
  • 2 litros de cidra
  • 250 ml de aperitivo de ruibarbo (planta semelhante ao aipo) 
  • 250 ml de aperitivo de elderflower 
  • 150 ml de suco de limão fresco
  • Limão, ruibarbo fresco e trevos cordados para decorar.

Como fazer: Misture todos os ingredientes com exceção da cidra e deposite o resultado, já coado, em uma vasilha para ponche. Quando estiver pronto para servir, coloque a cidra e os itens para decorar.

***

The Emerald 

Ingredientes: 

  • 50 ml de whisky
  • 20 ml vermute italiano doce (como o Martini vermelho, por exemplo) 
  • 2 doses de bitters  de laranja

Como fazer: Agite todos os ingredientes em uma coqueteleira com gelo e coe tudo para um copo gelado ou taça de Martini. Enfeite com um pouco de laranja.

***

Monastic Sour 

Ingredientes: 

  • 40 ml de whisky
  • 10 ml de licor Benedictine 
  • 10 ml de xarope de açúcar
  • 15 ml de suco de limão
  • 1 dose de Angostura 

Como fazer: Coloque a clara de ovo e o suco de limão em uma coqueteleira e feche. Misture por alguns segundos, retire a tampa e acrescente o resto dos ingredientes. Acrescente bastante gelo e depois balance por 20 segundos. Coe em um copo gelado e enfeite com limão.

***

Black Barrel Punch 

Ingredientes:

  • 20 ml de Jameson Black Barrel
  • 20 ml de rum
  • 20 ml de vinho do Porto
  • 20 ml aperitivo de framboesa
  • 20 ml de suco fresco de lima
  • 2 doses de angostura (bitter)

Como fazer: Coloque todos os ingredientes em uma coqueteleira cheia de gelo. Feche e mexa por 20 segundos. Coe para uma xícara de chá e enfeite com noz moscada recém ralada.

***

P.S: Paralelamente ao trabalho como editor do PdH, tenho começado a me dedicar mais à fotografia. Se você gostou das fotos desse texto (são todas de minha autoria) ou quer conhecer outras, dê uma passada por lá: @ismaeldosanjos. Desde já, agradeço pela força.


publicado em 04 de Maio de 2015, 05:14
Ismael veredas corte jpeg

Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas. Siga-o no Instagram.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura