6 formas de incrementar a empatia na internet

Perguntamos a psicólogos, designers de experiência de usuário e escritores o que os usuários da web poderiam fazer para promover uma interação mais empática no âmbito online. Aqui apresentamos o que eles disseram.

Seja ao compartilharmos fotos bonitinhas de seu animal de estimação, mensagens de aniversário no Facebook, ou começarmos um vlog no YouTube, não interessa como, a internet continuamente oferece cada mais formas de nos conectarmos.

Toda essa interconexão não necessariamente leva a uma melhoria da compreensão mútua. Relacionar-se com os outros com empatia – isto é, nos colocando no lugar do outro para compreender e partilhar de seus sentimentos – é muitas vezes mais difícil online do que na vida real.

Escondidos atrás da tela, usuários web não sentem responsabilidade por suas ações da mesma forma que o fariam no mundo real. Dependendo de onde estamos no mundo online, as pessoas com quem interagimos podem ser anônimas ou serem desvinculadas de qualquer elemento corpóreo, e isso pode obstruir nossa capacidade de reconhecer as coisas sob pontos de vista delas.

Como qualquer olhadinha rápida na sessão de comentários de quase qualquer artigo no 4Chan.org mostra, essa anonimidade encheu a internet de trolls suficientes para povoar cada centímetro sob cada ponte na Noruega múltiplas vezes – e contribuiu para a crueldade, o bullying e o assédio online evidentes por todo lado.

Uma web mais empática traria um fim a isso. E os pesquisadores sugerem que praticar empatia conduz a relacionamentos mais felizes e vidas mais satisfatórias. Assim, aumentar a empatia online também pode beneficiar nossos espaços off-line.

Felizmente, há muitas formas de ajudarmos, com nossas próprias interações, a construir uma internet mais empática. Aqui apresentamos seis formas de começar.

1. Use vídeo ao vivo e chat sempre que puder

Foto de T. Faltings / Flickr

Como mencionado acima, a anonimidade é um dos maiores obstáculos à empatia online. Quem disse isso foi Roman Krznaric, um psicólogo e autor de Empathy: Why it Matters and How to Get it (Empatia: por que importa, e como atingí-la). “Os psicólogos chamam isso de ‘efeito de desinibição online’. Basicamente, se você é anônimo e não precisa encarar as pessoas frente a frente, as barreiras sociais desaparecem, e você pode acabar sendo incrivelmente rude para com elas.”

O efeito de desinibição muitas vezes aparece nas sessões de comentários de sites como YouTube e Reddit, lugares onde muitas trocas ocorrem entre estranhos.

“Para os usuários formarem conexões empáticas uns com os outros, quanto mais ‘tempo real’ melhor,” diz Jessi Baker, um designer de experiência do usuário que se especializa em tecnologias que encorajam a empatia e a sustentabilidade ambiental nos consumidores. “Possibilitar vídeo ao vivo e chat nos produtos permite conversas genuínas onde a empatia pode ocorrer.”

Participe de eventos de chat ao vivo focados em um assunto ou evento com que você sinta conexão.

Claro, nem todo vídeo ou chat levarão a interações empáticas. (O Chatroulette teve resultados duvidosos e acabou tendo problemas com exibicionismo de cunho sexual.) Mas há muitas formas dos usuários da internet usarem o chat ao vivo de forma construtiva.

Que tal botar o papo em dia com um velho amigo que você não vê há anos pelo Skype, em vez de mandar uma mensagem de Facebook? Participe de eventos de chat ao vivo no Reddit e no Twitter focados num assunto com que você sinta conexão. Se considera fazer um curso online, procure um que seja em vídeo. Isso ajuda a criar um laço mais pessoal entre o educador e o aluno, e provavelmente será também mais instigante.

Quando feito corretamente, o chat ao vivo nos faz lembrar que o usuário do outro lado da tela é, de fato, uma pessoa como você.

2. Use a web para se aventurar além de sua zona de conforto

Para vislumbrar um pouco como é a vida dos outros, considere visitar sites como Humanos de Nova York. O blog tem ótimas fotos de indivíduos apresentadas com citações inteligentes ou trechos de diálogo. Sites como esses possibilitam aos usuários ver um pouco da vida pela perspectiva de estranhos, e oferecem uma oportunidade de refletir sobre experiências compartilhadas. Você pode seguir Humanos de Nova York no Facebook, Twitter, Instagram, and Tumblr.

Também ajuda estar mais ciente dos algoritmos utilizados por alguns dos sites mais populares do mundo. “Se quisermos maximizar os benefícios e minimizar os danos da conexão, temos que tomar responsabilidade em moldar as ferramentas que usamos para lidar com o mundo,” escreve Ethan Zuckerman em seu livro Rewire: Digital Cosmopolitans in the Age of Connection (“Reconfigure: Cosmopolitas Digitais na Era da Conexão”).

Zuckerman coloca em discussão os perigos dos algoritmos utilizados por corporações tais como Google, Amazon e Netflix, que mostram para os usuários conteúdos baseado no que compraram ou curtiram no passado. Esses tipos de filtros tornam progressivamente mais difícil para os usuários de internet descobrir conteúdo fora de suas redes pré-existentes.

O autor e ativista Eli Pariser chama isso de “bolha do filtro.” Embora seja quase impossível se desvencilhar dela completamente, Pariser tem uma ótima lista de 10 boas práticas – a maioria delas ligadas a alterar configurações no Facebook ou Google – que podem ajudar.

E enfim, temos a boa e velha serendipidade. Siga links de páginas que você confia, e então siga os links que encontrar nestas. É uma forma de descobrir informação e conhecer pessoas fora de sua bolha do filtro.

3. Invista em conteúdo que aprecia

Embora o botão “curtir” no Facebook muitas vezes pareça superficial, já há pessoas trabalhando para aprofundá-lo.

Uma forma de fazer isso é colocar dinheiro na equação. O Flattr, por exemplo, é um aplicativo que permite aos usuários fornecer apoio financeiro às pessoas que fazem o conteúdo que eles consomem. Os usuários selecionam uma quantia mensal e a enviam para sua conta no Flattr. O app então divide aquela quantia de forma igual ao longo do mês para todas as coisas que se “curte” ou “favorita”.

Embora o botão “curtir” no Facebook muitas vezes pareça superficial, já há pessoas trabalhando para aprofundá-lo.

“Flattr é como um ‘curtir’ com valor real,” explica o site do programa. “É fazer parte da criação de conteúdo de alta qualidade.”

Ao trazer o dinheiro para o processo, o Flattr permite que os usuários fiquem mais conscientes de suas ações online e apreciem melhor os humanos que criam seu conteúdo preferido.

4. Documente a injustiça e informe os usuários a respeito dela

Se você se deparar com alguma forma de injustiça, documente-a e compartilhe. Isso faz uso do poder da internet – particularmente as redes sociais – de aumentar a consciência de questões de justiça social tanto a nível local quanto globalmente.

As redes sociais online utilizadas dessa forma ajudaram a espalhar emoções ponderosas durante o movimento Occupy Wall Street e na Primavera Árabe, diz Krznaric. “Alguém tira a foto de uma garota sendo morta pelas forças de estado no Irã, e em questão de horas centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo já sabiam o nome dele e puderam sair para as ruas para protestar.” Esse exemplo mostra como redes como o Twitter podem gerar ondas de empatia global que talvez não viessem a existir sem esses serviços.

Pode haver injustiças online também. Se você testemunhar crueldade em espaços online onde passa tempo, faça um screenshot e envie para os provedores de hospedagem do site, administração de escolas ou o que for, de forma a fazer justiça.

5. Se junte ao clube (de leitura)

De acordo com um estudo recente, pessoas que leem ficção tendem a desenvolver uma capacidade maior para a empatia. Isso pode ter a ver com o desenvolvimento de uma habilidade para entender os pensamentos e sentimentos dos personagens. Seja Crepúsculo ou Jane Eyre, as obras de ficção exigem essa capacidade – ainda que, convenhamos, algumas a exijam mais profundamente do que outras.

Assim, clubes virtuais de livros e filmes podem ser ótimas formas de interagir com os outros e desenvolver empatia em conjunto. Para começar, escolha um filme ou um livro, e organize um tempo e lugar – seja um chat ao vivo ou um fórum de mensagens em tempo real – para os membros se conhecerem e compartilharem seus pensamentos e sentimentos sobre o material.

Precisa de alguma inspiração? Dê uma olhada na Biblioteca da Empatia. O site se especializa em livros e filmes que o colocam mais profundamente no ponto de vista de outra pessoa, e está cheio de listas de “10 melhores” e dicas para montar um clube de leitura. Qualquer pessoa pode acessar as recomendações de filmes e livros do site, e se você se inscrever, pode adicionar suas próprias recomendações.

6. Pratique autocompaixão

Usuários da web têm a tendência de retratar o seu melhor lado publicamente. Celebramos nossos novos trabalhos, anunciamos nossos noivados, e postamos várias fotos de refeições, pornografia alimentar. Mas se ansiamos por empatia real de nossos amigos e seguidores, ajuda mostrar um pouco mais do que apenas os momentos felizes.

Redes como o Twitter podem gerar ondas de empatia global que talvez não viessem a existir sem esses serviços.

Vimos isso em ação quando Robin Williams cometeu suicídio. Muitos se surpreenderam que um dos atores mais bem sucedidos e aparentemente felizes de nossos tempos tenha sofrido de depressão. Sua morte levou os outros a compartilharem suas experiências com doença mental.

Por exemplo, o comediante Chris Gethard, que fez um post em seu blog chamado “This Is The Face of My Mental Illness.” (“Esta é a cara da minha doença mental”)  Sob uma foto que tirou de si mesmo depois de um dia que passou “na cama, assustado e chorando”, escreveu: “Até este momento JAMAIS deixaria alguém ver esse rosto.” Gethard escolheu compartilhar esta foto de um momento emocional desafiador de forma que outras pessoas sofrendo de depressão não precisassem se sentir sós em suas tristezas.

Sem dúvida, há certa beleza nas fotos em que se faz biquinho, e no álbum das férias. Mas também há valor em ser honesto consigo mesmo, com os amigos, e com os seguidores, quando coisas desafiadoras surgem na vida. E pedir empatia em momentos de necessidade.

7. (Insira sua forma aqui.)

Como você pratica empatia online? Conte para nós nos comentários abaixo.

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Nota: esse texto foi originalmente publicado na Yes Magazine e publicado sob autorização da autora.


publicado em 28 de Dezembro de 2014, 00:05
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Liz Pleasant

Graduada pela Universidade de Washington em Antropologia e editora assistente na Yes! Magazine. Siga no Twitter.


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