30 autores fodas falam sobre Deus e ateísmo

“[O cristianismo] é um sistema totalitário. Se houvesse um deus, que pudesse fazer essas coisas, e exigir essas coisas, e que fosse eterno e imutável, nós estaríamos vivendo sob uma ditadura, sem direito de apelação.” – Christopher Hitchens

Esta é apenas uma das frases proferidas pelos 30 autores mais do que renomados presentes no vídeo abaixo. Gênios do naipe e da diversidade de Isaac Asimov, José Saramago e Douglas Adams. Sir Arthur Clarke, Sir Terry Pratchett e Sir Salman Rushdie.

O vídeo está todo em inglês, e obviamente o vocabulário não é dos mais simples. Hoje em dia tem que ser bilíngue, filhão. Mesmo assim, transcrevi e traduzi as minhas três falas favoritas entre as 30, abaixo do vídeo.

Mas nada como ouvir esses grandes homens falando:

Link YouTube | Se você conhece um bom vídeo sobre o tema, a gente te convida a postar nos comentários.

A primeira fala que eu gostaria de destacar vem do escritor britânico Ian McEwan, que foge de argumentos complicados em favor de um pensamento simples e singelo a respeito da Terra onde a gente pisa todos os dias:

“Se você tem um texto sagrado que te diz como o mundo começou, ou qual a relação entre este deus no céu e você, isso corta toda a sua curiosidade, e o senso de querer descobrir todos esses mistérios. Você simplesmente diz ‘ah, isso é mistério’ ou ‘a mente de Deus ninguém consegue ler’ ou ‘Deus escreve certo por linhas tortas’. Isso corta uma fonte de admiração.
Eu gostaria de atribuir aos ateístas um senso muito maior e mais vivo de interesse e conexão com o mundo. Um senso das suas maravilhas, das maravilhas que estão acessíveis à nossa curiosidade e podem ser descobertas por ela, com deleite. Como admirar o trabalho de outra pessoa, descobrir mais um aspecto do quanto é curioso e complexo e amável é o mundo.
Essa amabilidade do mundo, em todas as suas maravilhas, não é aparente para mim no islã ou no cristianismo ou nas outras principais religiões. Me parece como se, mentalmente, você ficasse de mãos atadas. Você se fecha, você fecha o espírito livre e questionador.”

O lendário Isaac Asimov, praticamente o inventor da robótica e um dos imortais autores da ficção científica mundial, preza muito pela praticidade:

“Ao menos no que diz respeito à razão, há um sistema de transferência. Um sistema de argumento racional, seguindo as leis da lógica, um conjunto [de leis] com o qual um grande número de pessoas concorda. Então, na racionalidade, nós temos o que chamamos de evidências convincentes. Ou seja, se eu localizar certos tipos de evidências, mesmo pessoas que discordam de mim desde o início podem se sentir convencidas a concordar comigo tendo por base estas evidências.
Mas sempre que vamos além da razão e entramos na fé, não há nada parecido com evidências convincentes. Mesmo que você tenha uma Revelação – você teve uma Revelação; como pode transferir essa revelação para os outros? Através de qual sistema?”

Para fechar, a poderosíssima – ainda que longa – fala do escritor, ensaísta e jornalista Christopher Hitchens, falecido em novembro do ano passado, que se autodenominava “antiteísta”, em vez de simplesmente ateísta:

“Para ser um cristão você precisa acreditar que por 98 mil anos a nossa espécie sofreu e morreu, a maioria das crianças morrendo no parto, a maioria das pessoas com uma expectativa de vida de 25 anos, com fome, batalhando, guerreando, sofrendo, tudo isso por 98 mil anos, enquanto os céus observavam com completa indiferença. Então, há 2 mil anos, os céus decidiram ‘já chega disso, acho que é hora de fazermos alguma coisa’, e a melhor maneira de fazer isso seria condenar alguém a um sacrifício humano em algum lugar da região menos instruída do Oriente Médio. Não vamos aparecer para os chineses, por exemplo, onde as pessoas sabem ler e estudar evidências e ser civilizadas. Vamos ao deserto e façamos outra revelação lá.
Isso não faz sentido. Não é algo que não pode ser acreditado por alguém que pensa.
Por que eu fico feliz que este é o caso? Para chegar ao ponto do que há de errado no outro lado do cristianismo, porque eu acredito que os ensinamentos do cristianismo são imorais.
O [ensinamento] central é o mais imoral de todos, o da redenção vicária. Você poder jogar os seus pecados em outra pessoa, o que é vulgarmente conhecido como ter um bode expiatório.
Eu posso pagar a sua dívida se eu te amo. Eu posso ir para a prisão no seu lugar se eu te amar muito. Eu posso me voluntariar a isso. Mas eu não posso te redimir dos seus pecados, porque eu não posso abolir a sua responsabilidade, e eu não deveria me oferecer para fazer isso. A sua responsabilidade precisa permanecer com você. Não existe redenção vicária.
Muito provavelmente não existe sequer redenção. Isso é apenas wishful thinking (NT.: Pensar que algo é verdadeiro só porque queremos que seja), e eu também não penso que wishful thinking seja bom para as pessoas. Isso consegue até poluir a questão central, a palavra que eu acabei de usar, a palavra mais importante de todas: a palavra amor, ao tornar o amor compulsório, ao dizer que você tem que amar. Você tem que amar ao seu vizinho como a ti mesmo, algo que você na verdade não consegue fazer. Você sempre acabará falhando, então sempre poderá ser considerado culpado.
Ao dizer que você tem que amar alguém a quem você também precisa temer. Um ser supremo, um pai eterno, alguém de quem você deve ter medo, mas também deve amar. E se você falhar nessa tarefa, novamente é um pecador imundo. Isso não é mentalmente, moralmente ou intelectualmente sadio.
E isso me traz à objeção final, que é: esse é um sistema totalitário. Se houvesse um deus, que pudesse fazer essas coisas, e exigir essas coisas, e que fosse eterno e imutável, nós estaríamos vivendo sob uma ditadura sem direito de apelação. Uma que jamais poderia mudar. Uma que sabe o que pensamos e pode nos condenar por crimes de pensamento. Nos condenar a uma punição eterna por ações que nós estamos fadados desde o início a tomar.
Por tudo isso – resumindo; eu poderia dizer bem mais – eu digo que é algo excelente que não exista absolutamente nenhum motivo para acreditar que nada disso seja verdadeiro.”

Os 30 autores, na ordem que aparecem no vídeo

1. Sir Arthur C. Clarke, Escritor de Ficção Científica

2. Nadine Gordimer, Ganhadora do Nobel em Literatura

3. Professor Isaac Asimov, Autor e Bioquímico

4. Arthur Miller, Dramaturgo Ganhador de um Prêmio Pulitzer

5. Wole Soyinka, Ganhador do Nobel em Literatura

6. Gore Vidal, Novelista Premiado e Ativista Político

7. Douglas Adams, Escritor Best-Seller de Ficção Científica

8. Professor Germaine Greer, Escritora e Feminista

9. Iain Banks, Autor Best-Seller de Ficção

10. José Saramago, Ganhador do Nobel em Literatura

11. Sir Terry Pratchett, Novelista Best-Seller

12. Ken Follett, Autor Best-Seller

13. Ian McEwan, Novelista Ganhador do Prêmio Man Booker

14. Andrew Motion, Poeta Premiado (1999-2009)

15. Professor Martin Amis, Novelista Premiado

16. Michel Houellebecq, Novelista Francês Ganhador do Prêmio Goncourt

17. Philip Roth, Novelista Ganhador do Prêmio Man Booker

18. Margaret Atwood, Autora e Poetisa Ganhadora do Prêmio Booker

19. Sir Salman Rushdie, Novelista Ganhador do Prêmio Booker

20. Norman MacCaig, Poeta Escocês Renomado

21. Phillip Pullman, Autor Britânico Best-Seller

22. Dr Matt Ridley, Escritor Científico Premiado

23. Harold Pinter, Ganhador do Nobel em Literatura

24. Howard Brenton, Novelista Premiado

25. Tariq Ali, Cineasta e Escritor Premiado

26. Theodore Dalrymple, Escritor e Psiquiatra

27. Roddy Doyle, Novelista Ganhador do Prêmio Booker

28. Redmond O'Hanlon FRSL, Estudioso e Escritor Britânico

29. Diana Athill, Editora Literária e Autora Premiada

30. Christopher Hitchens, Autor Best-Seller e Colunista Premiado

 


publicado em 02 de Fevereiro de 2012, 22:01
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Fabio Bracht

Toca guitarra e bateria, respira música, já mochilou pela Europa, conhece todos os memes, idolatra Jack White. Segue sendo um aprendiz de cara legal.\r\n\r\n[Facebook | Twitter]


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