Nossa cultura tem uma relação curiosa com a inteligência. Valorizamos pessoas que entendem facilmente as tarefas que lhes passamos, que conseguem antecipar nossas necessidades, ou que, enfim, contribuem de forma “bem azeitada” com nossos projetos. Gostamos de ter colaboradores e subalternos inteligentes, ou até mesmo ser atendidos, digamos, numa ligação de suporte com relação a um produto qualquer, por alguém que demonstre pelo menos entender o que estamos falando.
Gostamos também de crianças espertas, que se expressam bem e falam como se fossem adultas, e tomamos por heróis aqueles gênios da história que nos espantam com as revoluções que colocaram em movimento com suas ideias extraordinárias.
Porém, quando nos deparamos com alguém que desafia nossa própria inteligência, uma pessoa de posição superior verdadeira ou imaginada (um chefe, professor, ou simplesmente alguém que não se apresenta subalterno), qualquer eventual inteligência que essa pessoa possa de fato ter se torna muitas vezes extremamente desagradável.
A visão patriarcal também demanda que as mulheres inteligentes se finjam de sonsas, porque a inteligência é crítica, chata, arrogante, fala alto, argumenta e refuta – nada disso coisas que tradicionalmente se esperava de uma mulher.
Essa ambivalência quanto à inteligência, boa quando vindo de nós mesmos ou de baixo, ou ruim quando de cima ou nos ameaçando, é também marcante porque algumas vezes a inteligência é vista como uma qualidade quase espiritual. Ora, se gostamos de uma pessoa por sua beleza física, somos considerados superficiais, mas se por seu brilho cognitivo, isso aparentemente nos faria de alguma forma moralmente mais justificados. Como se a inteligência também não fosse apenas mais um valor mundano, exatamente como a beleza.
O problema é que a inteligência não só é ambígua em seus valores, ela é um conceito ambíguo: está ligada a coisas como capacidade de resolver problemas, conversar bem, ter cultura, ser capaz de empatia e ser atento e paciente. E um desses elementos pode faltar completamente, que se outro está presente em abundância, ainda assim dizemos que a pessoa é “inteligente”. E talvez apenas algumas dessas características estejam nesse espectro “espiritual”, não superficial, de apreciação do outro, e de motivo para que o admiremos ou amemos.
Abaixo estão coletadas (em inglês) algumas matérias sobre inteligência, que podem ser interessantes se você está confrontando a sua própria (ou a falta dela), ou está atualmente fascinado ou enfurecido com alguém burro ou esperto demais ao seu redor.
Inteligência e criatividade
- Um ensaio de Isaac Asimov, um dos mais prolíficos autores da história, sobre “Como as pessoas chegam a ideias novas?”, isto é, o segredo da criatividade a Salon também comentou o artigo de forma resumida;
- Continuando com o inteligentíssimo Asimov, “O que é mesmo a inteligência?”.
Inteligência e linguagem
- “Como ser bilíngue deixa seu cérebro fodão” examina a neurologia da consequência de aprender pelo menos uma segunda língua;
- “Para ter um cérebro melhor, aprenda outra língua”, os benefícios cognitivos e de saúde em geral em se aprender pelo menos uma segunda língua;
- “O inglês que você fala não se relaciona com o quão inteligente você é” – se você fala um registro inculto de sua língua, isso pode o fazer parecer burro, mas essa relação não se sustenta na realidade;
- Pesquisa mostra que “Um vocabulário rico pode proteger contra deficiências cognitivas”.
Os seus limites atuais: genética, biologia, fisiologia
- “Os seres humanos super inteligentes estão chegando”;
- Podcast com Carl Zimmer “Buscando as bases fisiológicas e biológicas da inteligência”;
- Encontraram apenas três genes, com minúsculas influências sobre o cérebro em “A busca dos pesquisadores sobre uma base genética para a inteligência não encontra quase nada”;
- Depois d’“A Curva do Sino” “O que há de novo com relação às pesquisas de inteligência?”;
- Inteligência é só entropia? “Físico propõe uma nova forma de encarar a inteligência”.
O que dá para mudar: cultivo
- “Você pode aumentar sua inteligência: 5 formas de maximizar seu potencial cognitivo“
- Site que afirma promover a cognição através de jogos se mostra cientificamente improvável, “Os jogos da Lumosity são bobagem”;
- Muitos cientistas assinaram embaixo que ainda não há evidências sobre treinamentos que podem melhorar sua capacidade cognitiva além do nível basal: “Consenso da comunidade científica sobre a indústria do treinamento do cérebro”.
Inteligência e infância
- As crianças não nascem inteligentes, elas ficam inteligentes através da conversação: “Bastante papo de neném”;
- Desenhar feio não diz muito. “O que os desenhos das crianças dizem sobre sua inteligência?”.
Comportamento
- Há uma coisa que gente inteligente parece fazer bastante. “O que aprendi com gente inteligente”
- Sim, muitas pessoas igualam inteligência com sucesso: “Se você é tão inteligente, porque não é rico?”.
Problemas de gente inteligente
- Pessoas inteligentes racionalizam tanto que podem perder a autoconfiança “A maldição dos inteligentes”;
- E, por outro lado, a confiança o faz parecer mais inteligente: “Pessoas superconfiantes parecem mais inteligentes, mesmo quando não são”;
- A raiz dos vieses é inconsciente, e as pessoas inteligentes acabam ainda mais vítimas deles. “Por que os inteligentes são burros?”.
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