10 horas na mata

Acordei 5:30am nesse sábado, após ter ido dormir às 2am. O motivo?

Uma expedição de 10 horas mato adentro em Itutinga Pilões, Cubatão. Iríamos explorar a trilha de uma antiga usina de papel desativada em 1947, subindo até a barragem responsável pelo abastecimento hidrelétrico na época.

Felipe, Cambiaghi e eu seríamos o esquadrão destacado para representar o PapodeHomem. Infelizmente, o Felipe precisou abrir mão na última hora. Juan "UFC" Pablo entrou em seu lugar, adicionando mais força ao time.

No ônibus, babei no caminho de ida. Dormi como uma pedra. Estava levando em minha mochila:


  • 1 litro de água

  • 2 sandubas de queijo, requeijão e pão de ovo

  • 3 pacotes de cookies Quaker

  • bermuda, meia e camiseta extra

  • repelente

  • lanterna com pilhas extras

  • cortador de unha

  • carteira

  • celular

  • escova de dentes

Cambiaghi e Juan Pablo fizeram uma porrada de sandubas de filét de frango. Providencial.

A trupe, antes do estrago. Sou o aspirante a militar ali no meio.

O grupo era eclético, cerca de 20 pessoas indo de 17 a 56 anos. Todos bem preparados, dispostos e gente finíssimas. Alguns já participavam dessas expedições há anos. O mais velho era nosso guia Rivaldo, também conhecido como "Capitão". Ele coordena a Pé na Mata Adventure, organizadora do passeio.

Passeio?

Nem tanto. Saímos às 10h. Após os primeiros 20 minutos de caminhada atravessamos o primeiro riacho. Pé encharcado, não tinha como evitar. Mais duas horas de caminhada, mais tantos riachos, buracos, subidas e mata cada vez mais fechada. A parada de almoço foi feita pouco antes das 14h, numa cachoeira deliciosamente gelada. Lá flagrei o kit de sobrevivência de nosso Capitão:

Lancheira, faca do Rambo e diário de bordo dos bichinhos felizes.

Escorregar e torcer o pé era um palito.

Juan, eu e Cambi. Pagando de sereias na selva.

Nosso líder Rivaldo, o "John Locke" brazuca

Link vídeo | Incentivo.

Depois do pitstop a trilha ficou ainda mais cerrada. Mais 1h30 e chegamos na usina desativada, com ares de Dharma Corp. O calor estava foda, camisetas encharcadas de suor. Seguimos em frente. Começamos a nos embrenhar usando os antigos e enormes canos da usina, enferrujados. Umas vinte pessoas seguindo pelos canos, a cena daria nó em puristas pela segurança. A certa altura, em parei o Rivaldo e comentei:

- Cara, o negócio aqui tá perigoso. Podemos ter um acidente a qualquer momento.

Isso a no mínimo quatro horas de qualquer tipo de resgate. Então eu e ele avançamos pra descobrir se realmente dava pra chegar até a barragem. Não tinha caminho. Tinha mato fechado. O caminho era quebrar árvores, ralar no chão e se cortar com espinhos, abrindo espaço para quem viesse atrás. A certa altura me perguntei, "o que diabos está fazendo no meio dessa floresta entre cobras e aranhas mais venenosas do que uma naja, hein, Guilherme, seu retardado??". Ainda assim, seguimos.

Alcançamos a barragem, finalmente.

Após duras penas, a recompensa foi alcançada.

O resto do grupo veio atrás e após mais 30 minutos, todos estávamos exaustos, sujos, felizes e nadando na bela cachoeira, lavando a alma.

O retorno foi rápido, metade do tempo. Com direito a parada para uma mini tirolesa no lago.

Mizuno, o merchan é por conta da casa.

Chegamos no ponto de encontro pouco antes do anoitecer. Meus pés não estavam tão cansados, mas minhas coxas estavam ridiculamente assadas por conta da calça molhada em todo o caminho. Se a caminhada fosse mais longa, iria me ferrar. Como não era, taquei a mochila de lado e me joguei de roupa e tudo na piscina.

Na sequência, o bar nos brindou com cerveja gelada, pães, calabresa e fritas. Tive um orgasmo pela laringe.

Moídos e satisfeitos.

Na volta, tudo parecia perfeito. Estava cochilando no ônibus quando a aventureira língua comprida ao meu lado, Neide, disse:

Nossa, imagina se esse ônibus estragasse!

Corta. Passa um tempo.

POW-CRAC-TUM

Dois pneus furados, no meio da Imigrantes. O pessoal ficou lá até alta madrugada esperando o guincho. Nós voltamos mais cedo, a primeira dama saco-roxo apareceu por lá não somente nos resgatando, mas com um cooler cheio de cervejas geladas para nos recepcionar. Digamos que ela sabe como ganhar pontos comigo.

A única pergunta decente a se fazer depois desse relato é: quando foi a última vez na qual os senhores se embrenharam na mata com os amigos em uma trilha insana? É bom pra caralho!

Quer colocar isso em prática?

Para quem está cansado de apenas ler, entender e compartilhar sabedorias que não sabemos como praticar, criamos o lugar: um espaço online para pessoas dispostas a fazer o trabalho (diário, paciente e às vezes sujo) da transformação.

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publicado em 21 de Fevereiro de 2011, 17:26
File

Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


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